Creya Vossa Senhoria que esta nova de Perpinhão he muy solicitada de todas as partes, e que em todas se esperão grandes consequencias de sua certeza, e pois temos esta devemos esperar aquellas, que tambem se podem ter por infalliveis.. 1 Pariz, e Setembro 19 de 6422. Carta do Bispo de Lamego, Embaixador em Roma, ao Conde da Vidigueira 1642-Setembro 22 Achasse Vossa Excellencia sem carta minha porque emquanto me não veio carta de Vossa Excellencia ser chegado a essa Corte deixei de escrever, porem tanto que a recebi dei razão de mym em 10 do passado, e do successo que tive no emcontro com o Marques dos Velles em 24 e 31 do mesmo. Da rezolução em que estava e deligencia que já havia feito com Sua Santidade por meyo do Embaxador de França, em 14 do prezente todas espero que Vossa Excellencia haja recebido, pella muita segurança que nestes correios expirimento. O ultimo estado do negocio era haver eu mandado dizer a Sua Santidade pello Embaxador de França, a dezauthoridade com que assistia nesta Curia posto em necessidade de ser guardado, e sem se me declarar que ou logo ou dentro em breve termo seria recebida a embaxada de Sua Magestade que Deus guarde, que era só o meyo com que me daria por assigurado, pello que pedia a Sua Santidade se service de me mandar deferir, declarando lhe, que no cazo contrario me rezolvia em voltar para Portugal, com certeza de que deixava justificada com Deus e com os homens a cauza d'ElRey meu Senhor. O Embaxador me dice que Sua Santidade o ouvira, e discorrera largamente sobre o que lhe dicera, mas sem lhe dar reposta affirmativa, nem negativamente, e que o Cardeal Barberino seguira o mesmo termo. Estando assy as couzas dice Monsenhor Bique ao Inquizidor da parte do Cardeal Barberino, que a Congregação havia rezoluto que eu não fosse recebido por Embaxador por se acharem na minha pessoa impedimentos depoes do emcontro com o Marques, e que os Cardeaes julgavão não ser conveniente a Sé Appostolica, quando tinha hua guerra com o Duque de Parma, querer outra com ElRey Catholico. Este recado do Cardeal comuniquei ao Embaxador de França, e porque elle se resolveo em fazer a saber aos Cardeaes da Congregação, que se me mandavão de Roma se havia de sair em minha companhia, respondi ao Cardeal que eu não podia sair desta Corte com satisfação que dar a ElRey meu Senhor se elle me não mandasse notificar em forma publica. Não me tornou reposta ainda, porque o embaraça a rezolução do Embaxador d'ElRey Christianissimo, e assy receo que me dilatem a reposta, se as guerras de Parma não fizerem aperto, e me deixem estar sem me ouvirem nem fazerem cazo de mym. Pello que estou com a mesma rezolução esperando avizo d'Vossa Excellencia. Para servir a Vossa Excellencia estou sempre certo. Deus guarde a Vossa Excellencia. Roma 22 de Setembro de 1642.-D. M. Bispo de Lamego'. Carta do Bispo de Lamego, Embaixador em Roma, ao Conde da Vidigueira 1642-Outubro 12 Acabo de receber com o correio de hoje as cartas d'Vossa Excellencia de 12, e 18 do passado, da ultima dellas entendi haverem chegado as mãos d'Vossa Excellencia as de 24 e 31 d'Agosto, com o que recebi grande contentamento, pello cuidado, que me dava o descaminho da escrevi a Vossa Excellencia em 9 do mesmo mes de que agora que invio copia para que Vossa Excellencia tenha noticia dos antecedentes e a altura em que estava o negocio. Bem certo estava de que se alegraria quanto he justo Vossa Excel 1 BIBLIOTH. NAC., Mss. I, (Corresp. do Marquez de Niza), fol. 63. lencia com ficar a reputação de Sua Magestade que Deus guarde no emcontro do Marques dos Velles tanto em seu lugar, e não menos me tem alegrado o certificar me Vossa Excellencia que este mesmo juizo se tem formado nessa corte. Pella carta de 14 do passado será prezente a Vossa Excellencia tudo o que havia succedido té aquelle dia, logo dahi a poucos mandou o Cardeal Barberino declarar ao Agente por Monsenhor Bique como a Congregação tinha rezoluto, que eu não fosse recebido pellos accidentes, que de novo sobrevierão em minha pessoa, e por se julgar, que não convinha a Sé Appostolica tendo hua guerra com o Duque de Parma querer ter outra com ElRey de Hespanha, e que assy se me fazia a saber como dali em diante seria tratado como particular, e se removeria a guarda, que assiste a esta caza, porem que não era sua tenção excluir de todo a embaxada de Sua Magestade. Comuniquei esta novidade ao Embaxador de França o qual se tem empenhado com o mesmo Cardeal, em que sendo eu mandado sair desta corte, se saira elle juntamente comigo. E mui bom fora, que não só este empenho lhe seja mandado approvar, mas que uze do mesmo termo se me não quizerem receber. Nesta conformidade respondeo o Agente a Monsenhor Bique, que ainda que eu não podia deixar d'obedecer as ordens de Sua Santidade, e de seus Ministros, comtudo era necessario, para dar satisfação de mym a Sua Magestade que se me notificasse em forma publica aquelle assento da Congregação. Com esta deligencia ficou suspenssa a execução de me lançarem fora, mas esta em seu ser a rezolução da Congregação de que eu não seja recebido, e assy continuão em me não ouvir por via algua, mas antes suppondo que se me havia assinado termo certo para me sair desta Corte fes a saber o mesmo Monsenhor em 6 do prezente ao Secretario, que o Cardeal entendia que té 10 deste mesmo mes se acabava o tal termo, e que determinava de remover a guarda, o que te o prezente não executou por lhe ratificar o Embaxador de França pessoalmente a sua determinação, mas cada hora o poderá fazer com o que me sera forssado voltar me para Portugal com os Ministros de Sua Magestade. Conforme a isto me não poderão ser de proveito as embarcações que Vossa Excellencia procurar depoes d'esta minha carta recebida, porque não chegarião a tempo capas de navegação, pello que sendo forssado partir me logo procurarei por minha via outra comodidade para passar a qualquer porto (?) desse Reyno, e dando as couzas lugar para me poder ir entretendo, e dilatando a partida, em tal cazo tornarei avizar a Vossa Excellencia para Vossa Excellencia ser servido de continuar as deligencias que ahi tera principiado com os Ministros d' ElRey Christianissimo a este fim. Todas as razões com que Vossa Excellencia discorre nesta sua carta, para me persuadir a continuar nesta Curia, me parecem dignas do grande zelo com que Vossa Excellencia procura emcaminhar o serviço d'ElRey meu Senhor, e do bom animo com que Vossa Excellencia me dezeja ver acertar em tudo, porem como Vossa Excellencia se acha tão distante desta Curia, e sem inteira notia (sic) do estado das couzas prezentes nella, posso ter confiança para dizer a Vossa Excellencia, que nunca podera parecer conveniencia o persistir em querer estar nesta terra contra vontade do senhor della, e com tão manifesto perigo de ser opprimido de nossos inimigos, e não pareça a Vossa Excellencia que por haver passado. o primeiro encontro, e se haver auzentado o Marques dos Velles tem cessado o fundamento do temor, porque os poderes d'ElRey de Castella em Roma não dependem da assistencia do seu Embaxador poes quazi todos os Princepes e Barões romanos são seus vassalos, e o que Vossa Excellencia aponta do socorro dos soldados, que me pode vir de Portugal a Liorne mostra bem que não esta Vossa Excellencia ainda informado de que pellas terras dos Princepes d'Italia não pode passar milicia estrangeira, e que aquelle Porto he do Grão Duque tão dependente d'ElRey de Castella, que me não atrevi eu a desembarcar nelle, e sobretudo pouco importaria este soccorro quando os castelhanos podem aqui por em campo maes gente que em Castella, porem nenhua destas razoens me obrigará a me voltar emquanto houver algua minima esperança de se melhorar o serviço de Sua Magestade. Muito grande merce me fes Vossa Excellencia em me comunicar as boas novas do Reyno que espero se acrescentarão com os progressos da armada. No particular da conezia de Lisboa não posso servir a Vossa Excellencia por me ter rezoluto a não fazer petições ao Cardeal emquanto não difere a embaxada de Sua Magestade, e por esta razão deixei passar 1 Assumpto extranho. a occazião do Deado de Evora, que era a milhor que poderia ter, para hum de meus sobrinhos. As cartas para Ferdinando Brandão, e para o Assistente se lhe entregarão, e do creditto se uzará quando pellas deligencias que elles fizerem seja necessario. O papel que contem copia das capitulações para a liga (?) de Italia, em que dizem quer entrar Sua Santidade mando a Vossa Excellencia, não para se lhe haver de dar outro creditto maes que o que basta para alcançar o intento dos castelhanos neste particular. Em tudo o que se offerecer do serviço d' Vossa Excellencia me empregarei sempre com muito gosto. Deus guarde a Vossa Excellencia muitos annos. Roma 12 d'Outubro de 1642.-D. M. Bispo de Lamego'. Carta do Bispo de Lamego, Embaixador em Roma, ao Conde da Vidigueira 1642-Novembro 9 A tres cartas d' Vossa Excellencia devo reposta, são de 3, 10 e 17 do passado, as quaes com esta darei satisfação no sustancial dellas. Refere me Vossa Excellencia como dando conta o secretario dessa embaxada ao Cardeal Mazarine, e a monsieur de Chavigni, da rezolução com que me achava de voltar para Portugal, por não querer Sua Santidade aceitar em tanto tempo a obediencia d'ElRey meu Senhor, nem conceder me audiencia como a pessoa particular, negando me de todo os meios de lhe poder reprezentar as razões que justificão esta embaxada forão elles de parecer que a minha saida de Roma era agora intempestiva pella occazião que se dava a ElRei de Castelia tornar a mandar Embaixador a esta Curia, e ajustar suas couzas com o Cardeal Barberino, significando ultimamente a Vossa Excellencia que seria conveniente deter me eu por tempo de dous mezes esperando que dentro deste termo se poderia tomar inteira resolução, e que o Marques de Fontane ajudaria com dizer que não sendo eu ouvido se havia de sair comiguo, e eu podia di |