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26. Quando naquella referida expedição que fizemos aos Gamellas de Vianna em 1810, penetramos aos districtos destes Timbirás, e fomos talvez bem perto das povoações cm que vivem pelo inverno, achamos na parte superior de um bosque a sepultura de um, que julgamos ser dos seus maioraes; no circuito de trinta ou quarenta braças quadradas estava o terreno limpo tão escrupulosamente, que parecia respeitarem-no as mesmas folhas seccas, que o vento despedia das grandes arvores daquelle lugar, cujas altas ramagens entrelaçadas umas com as outras lhe formavam sufficientemente toldo, que quasi não era penetrado pelos mesmos raios do sol; reinando alli como um respeitoso silencio, que inculcava a importancia do lugar; pois que até os mesinos passarinhos afugentados pela vozeria e tiros daquelles barbaros, não costumavam mais pouzar, new a cantar nos visinhos ramos.

27. Marcava-se no centro desta sombria sala um perfeito circulo diametral de quatro braças, e neste é que suppuzemos vinham elles dançar em certos dias, ao som das canções funebres que entoavam em honra do seu finado; em torno da grande quadra limpa havia pequenas acommodações por fóra della cobertas de palha, e com signaes de fogos, com que nellas sesteavam ou pernoitavam quando vinham alli. Situava-se o bosque n'uma ladeira, ou muito suave levada, cuja maior elevação continha o fundo, e ficava ao Sul, sendo ao Norte a entrada ou frente, antes de chegar á qual já de longe se lisongeava a vista com a sua perspectiva, que naquelle genero grutesco se mostrava magestosa. Da parte do fundo, e a poucos passos do circulo do centro, levantava-se o mauzoleu, que constava de uma pequena cabana feita de páos delgados, e coberta de palhas seccas tambem tecidas, que podia resistir ás chuvas; tinha no comprimento oito palmos, na largura cinco, e de altura nove pela parte de dentro cahiam pendentes do meio da coberta as armas do fallecido, arco, frechas, tamaranna, prezas por ambas as extremidades.

23. O cadaver depositava-se poucos palmos debaixo da terra, sentado dentro em um côfo, ou ceirão de

palha: tinha enfiado na cabeça outro pequeno côfo, entre as pernas um cesto com batatas, mendubis e inilho, recommendado sustento, porêm pouco para tão larga viagem, bem como es Athenienses recommendavam quando falleciam, que não se esquecesse pôr-lhe debaixo da lingua a moeda para pagar a passagem da barra de Charonte.

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29. Bem persuadidos nós de que tamanhas distincções pertenciam sómente aos seus maioraes, segundo o que já de outras sepulturas ordinarias tinhamos visto deixadas em abandono, resolvemos mandar restituir ao seu lugar este penhor, visto que tambem por alguma fórma incommodava o olfato para haver de ficar descoberto, deixando-o como estava, e sem permittir lançassem fogo á palhoça, como pretendiam fazer nossos soldados; porêm inaliciosamente alguns destes na volta da jornada deixaram ficar-se atraz, e dosobedecendo ás nossas ordens, a incendiaram, como depois soubemos, e furtaram as reliquias; mas ou fosse porque a fumaça do incendio fizesse aos Timbirás avizo daquelle insulto, ou porque vindo estes alli o acharam perpetrado, correram immediatamente ás armas para tomar a devida satisfação em desaggravo dos manes do seu heróe; e seguindo nos cantelosamente, sem que jamais fossem sentidos, mataram á traição um paizano, que se extraviou da tropa, e dando de sobresalto na povoação do Cajary, que tambem acharam em descuido, mataram assim mesmo os que puderam colher ás mãos, e queimaram todas as cazas, que pela fuga dos seus proprietarios lhe foram mais faceis de incendiar.

30. Atrevem-se frequentemente estes gentios a romper com ligeiras escoltas ou guerrilhas por entre os estabelecimentos do baixo Itapicurú, que immensas vezes tem assolado, queimando os armazens dos generos colhidos das lavouras, e matando muitas escravaturas; hostilidades estas que arruinam aquelles proprietarios, e que fazem tambem com que a real fazenda de El-Rei Nosso Senhor perca os direitos que deveria perceber dos generos destruidos: tambem tem muitas vezes investido as embarcações que navegam o dito rio, bem como succe

deu aquella que em Março de 1815 nos transportava para a divisão desta capitania com a de Goyaz, valendoİhe então a ella, para não ser destruida, esta pequena força de tropa de linha que nos acompanhava em similhante commissão, fazendo este e aquelle motivo com que o commercio, a cultura, e a população dos seus terre-nos centraes não se tenha podido adiantar tanto quanto lh'o devia permittir a antiguidade dos seus principios com mais de cento e cincoenta annos de descobrimento, frequencia dos mesmos rios; sendo bastantemente reparavel que, sem embargo destas cousas tão attendiveis, não se tenha ainda feito uma tentativa para evitar estes males. (Continuar-se-ha.)

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MEMORIA

Sobre a situação da antiga cidade abandonada, que se diz descoberta nos sertões do Brasil por certos aventureiros em 1753, na conformidade da Relação por elles escripta, e publicada pelo Instituto Historico e Geographico do Brasil em 1839, e segundo as observações por mim feitas, e informações que colhi aqui e na minha viagem a Valença em 4 de Fevereiro do corrente anno de 1841.

(Escripta pelo Conego Benigno José de Carvalho e Cunha, Socio correspondente do Instituto.)

Encarregado pelo Instituto de indagar o que houvesse de importante ácerca da cidade abandonada nos sertões deste imperio, appliquei-me todo a este assumpto desde que voltei do Rio de Janeiro (1.° de Novembro), com destino de aproveitar minhas ferias em viajar por esse respeito, logo que podesse fixar um termo, ao menos provavel, para minha derrota. Um mappa circumstanciado da America Meridional, de que me fez favor o Sr. Arcebispo, e as informações que colligi de muitas pessôas, e especialmente do Sr. Dr. Remigio Pereira de Andrade, natural de Minas, de idade de 73 annos, e que tinha viajado boa parte destes sertões, e do Sr. Desembargador Mascarenhas, que desde Rio de Contas,

JULHO.

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onde foi ministro, tinha atravessado a serra do Cincorá e as terras entre o Paraguassú e Unna, junto com a relação publicada pelo Instituto, foram os elementos de minhas conjecturas provaveis ácerca da situação desta antiga cidade, que me permittiram fixar minha projectada viagem no fim de Janeiro, levando todo este tempo desde Novembro em exames, hypotheses, e preparativos.

Não tem faltado quem metta á bulha minha diligencia neste artigo, reputando fabula a Relação dos aventureiros de 1753: eu porêm não descubro nella nem motivos de o desconfiar, pois nada ha alli que cheire a invenção poetica, e será impossivel descortinar uma razão de gloria ou interesse, que podesse estimular uma tal ficção; e como lembrariam a mineiros os caracteres gregos, ou run nos? antes noto nesta Relação certa simplicidade e desalinho, como de quem escreve sem estudo, pois nem se guarda ordem na exposição dos factos, contando depois o que devia ser narrado em seguimento, se o escripto fosse pensado: mostra que foram escriptos os factos á proporção que iam lembrando, como se vê na moeda cunhada que um delles achou, etc. Diga lá cada um o que bem lhe parecer; o certo é que vi coroadas minhas diligencias, e realisadas minhas conjecturas, senão com toda a certeza, por me não caber no tempo e meios o prefazer minha viagem, ao menos com uma probabilidade, que se approxima muito da

certeza.

Vou expôr primeiramente como fixei minha jornada, e ao depois direi os testemunhos colhidos na minha viagem a Valença, que confirmaram tão poderosamente minhas felices conjecturas.

Notei que os aventureiros que escreveram a Relação, desceram pelo rio que corre defronte da cidade, gastaram tres dias até à catadupa, e escreveram logo depois de sua descida dos rios Paraguassú e dos rios Paraguassú e Unna, entre Valença e Cachoeira, ou, o que me parece melhor, das terras que medeiam entre o Unna e o Paraguassu pequeno, que vai desaguar na mesma bahia do morro logo adiante de Jequiriça, mui perto de Valença, onde estão situadas hoje beira-mar Valença, Mapendipe, Jequi

riça, e no interior de S. Fidelis, S. Ignez, Arêa, e Maracá. Ha outro Unna no sertão desta provincia , que desemboca no Occeano muito para lá do Rio de Contas, ao Sul da villa de Olivença; está claro que deste não falla a Relação, aliás diria que escreveram d'entre o Unna e Rio de Contas, e não do Paraguassi e Unna, e muito menos se trata aqui do outro Unna, que nasce da serra Garanhuns na provincia de Pernambuco logo a serra trás da qual está situada a cidade e o rio, que defronte corre, devem ficar na direcção a Oeste destas terras, donde data a Relação: conseguintemente a serra do Cincorá, situada neste rumo cuja extremidade a Este fica acima de Valença 3 ou 4 dias de jornada, é o lugar indicado na Relação, onde deve encontrar-se a cidade abandonada. Depois desta conjectura, que me pareceu bem fundada, passei a informar-me das particularidades desta serra, tendo sempre em vista a Relação publicada soube 1.° que é talvez a mais alta e inaccessivel que tem os sertões da Bahia, vista da parte do Norte, eriçada por grandes penhas, em que brilham muitos cristaes; e seu cume está sempre coberto de densa nevoa até 11 horas ou meio dia : 2. que não tem mais do que uma tromba da parte do Norte, pela qual se faz accessivel seu cume: 3.o que esta tromba ou estrada aberta desde a raiz até o alto da montanha, e formada em ziguezague (perdoe-se-me esta expressão), leva boas tres ou quatro horas a subir, e mostra ter sido rompida á força de braço humano, entre outros que por ella tem transitado me affirmou isto o Sr. Desembargador Mascarenhas: 4.° que desde a povoação do Cincorá até á entrada desta tromba vão duas leguas, e não ha rio ou mata que embarace o viajante são geraes; e tudo isto se conforma com a Relação dos aventureiros. Ora, que a abertura daquella estrada ou tromba não é devida ao governo portuguez, é indubitavel, aliás deveria constar por escripto ou tradição o autor e concurrentes para uma obra de tanta monta e trabalho, como é de romper tão alcantilada montanha, e a epocha pouco mais ou menos da execução; mas tudo se ignora: os povos que habitam confinantes nem hoje teriam força e resolução para tama

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