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para a França com os seus, temendo que lhes não cum prissem o que promettiam, vendo chegar os nossos navios á ella, lançaram-se ao mar, e a nado fugiram á terra, á vista dos nossos sem se seguir traz delles.

O capitão-mór e todos tiveram isto por grande mercê do Senhor, por ser este grande caminho para se desarreigarem do Rio de Janeiro os Lutheranos que n'elle ficam, que serão até uns trinta homens, repartidos em diversas aldeas, e todos homens baixos, que vivem com os Indios selvagens, e determinam de cumprir o que seus capitães tinham promettido, ainda que teve algumas contradicções de homens, que mais olham seu proprio interesse que o bem commum; mas sendo a maior parte de parecer que os devia deixar ir em paz, e que daquella maneira se fazia maior serviço a Deos e a Sua Alteza, e era caminho para mais facilmente se povoar e sustentar o Rio de Janeiro, lhes deu licença que se fossem, toinando-lhes a polvora e a artilharia que era necessaria para a cerca, deixando elles escripto aos seus que se fiassein de nós, e se sahissem d'entre os selvagens, e se lancassem comnosco, contando-lhes o bom tratamento que dos nossos haviam recebido; estes desta nau eram catholicos, segundo as mostras que traziam, a saber: horas de Nossa Senhora, signaes, contas, e cruzes. Pelo que é de crer que lhes fez o Senhor esta misericordia, porque não ficassem em terra, e se viessem como os outros, e aos nossos dessem grandissima oppressão favorecendo os Tamoyos: determinava o capitão-mór a minha partida de lá, que foi o derradeiro de Março, e fallar com os Portuguezes, levando-lhes um seguro real de S. A. e a carta de seus parentes para poder apartal-os d'entre os Tamoyos.. os Indios de se sujeitar, e.em pouca força na costa do Brasil, se não vem soccorro de S. A, pelo qual todos estão esperando.

...

Antes que a nau franceza se partisse, fizeram os Tamoyos outra cilada com vinte e sete canôas, aos quaes ella tirou muitos e bons tiros, o que tambem será a ajuda para elles lhes darem pouco credito e amor, e facilmente fazerem pazes com os Portuguezes, se forem desse Reino favorecidos, e assim ficar chão o rio; e estas canoas tra

ziam nove ou dez.... e metteremos em tanta pressa que foi forçada a gente e seis dellas lançar-se em terra para as defender, e alguns dos nossos sahiram após elles, e houve uma brava peleja, em que foram feridos dez ou doze dos nossos, e alguns de frechadas mui perigosas, as quaes pela mizericordia de Deos facilmente sararam; mas dos contrarios foram os muitos feridos, os quaes os nossos viam levar a rasto pela praia, e metter nas canoas, e assim os foram perseguindo por mar e por terra, quasi até meio caminho de suas aldeas, e tomaramlhes uma canoa, e tornaram-se com grande victoria: gloria seja ao Senhor!

Ao derradeiro dia de Março parti do Rio de Janeiro para esta cidade, por mandado da santa obediencia, com um homem tomado da Capitania dos Ilheos, chamado João Dandrade, o qual havia sido chamado de S. Vicente pelo capitão-mór a buscar mantimentos a estas capitanias, e por sua boa industria e diligencia chegou elle, como acima digo, no mesmo dia e maré que a armada chegou de S. Vicente, e de caminho levou cinco homens brancos, que resgatou d'entre os Tamoyos áquem do Cabo-Frio, os quaes se haviam perdido em um navio que antes de João Dandrade fôra mandado a buscar mantimentos; e depois de estar no rio todo este tempo, e achando-se nos conbates que tenho referido, o tornou o capitão-mór, por se fiar de sua diligencia, a mandar a negociar mais mantimento, porque a falta delle é que lhes faz uma maior guerra; já á minha partida tinham feito muitas roças ao derredor da cerca, plantados alguns legumes e inhames, e determinavam de ir a algumas roças dos Tamoyos a buscar alguma mandioca para comer, e a rama della para plantar; tinham já feito um baluarte mui forte de taipa de pilão, com muita artilharia dentro, com quatro ou cinco guaritas de madeira e taipa de mão todas cobertas de telha que se trouxe de S. Vicente, e faziam-se outras e outros baluartes, e os Indios e Mamalucos faziam já suas casas de madeira e barro, cobertas com umas palmas feitas e cavadas como cales e telhas, que é grande defensão contra o fogo. Os Tamoyos andavam se ajuntando para dar um grande com

bate na cerca; já havia dentro do rio oitenta canôas, e parece-me que se ajuntariam perto de duzentas, porque de toda a terra haviam de concorrer á ilha, e dizia-se que fariam grandes mantas de madeira para se defenderem da artilharia e abalroarem a cerca; mas os nossos tinham já grande desejo de chegar áquella hora, porque desejavam e esperavam fazer grandes cousas pela honra de Dees e do seu rei, e lançar daquella terra os Calvinos, e abrir alguma porta para a palavra de Deus entrar os Tamoyos: todos viviam com muita paz e concordia; ficava com elles o padre G...., que lhes dizia cada dia missa, e confessava e commungava a muitos para gloria do Senhor. O maior inconveniente que alli havia, ultra da fome, é que estão lá muitos homens de todas as capitanias, os quaes passa de auno que lá andam, e desejam ir-se para suas casas (como é razão): se os não deixam ir perdem-se suas fazendas, e se os deixam ir fica a povoação desamparada, e com grande perigo de serem comidos os que lá ficarem, de maneira que por todas as partes ha grandes perigos e trabalhos, e se não fosse o capitão mór tão amigo de Deos, e affavel, que nunca descança de noite e de dia, acudindo a uns e a ou tros, sendo o primeiro nos trabalhos, e terem todos grande

certa confiança que S. A. proverá, tanto que souber estar já feito pé no Rio de Janeiro, que tão temeroso era, ainda lá nessas partes tão remotas; e que se agora se não leva ao cabo esta obra, e se abre mão della, tarde ou nunca se tornará a commetter; já creio que houveram rebentados muitos e desesperando quasi todos, maximé tendo novas que deram aquelles homens que sabiram do captiveiro d'entre os Tamoyos, os quaes souberam de uma nau franceza, que alli estava, que estava o sobrinho de Villegagnon, capitão que foi da antiga fortaleza, para vir ao Rio de Janeiro e S. Vicente com uma grossa armada; a cerca que tem feita não é mais que um pé a tomar posse da terra, sem se poder dilatar nem sahir della sem soccorro de S. A., á quem V. R. deve lembrar e incitar que logo proveja, porque ainda que é cousa pequena a quem se tem feito, comtudo é maior, e basta-lhe chamar-se cidade de S. Sebastião para ser

favorecida do Senhor, e merecimentos do glorioso martyr, e accrescentada de S. A. que lhe tem tanta devoção e obrigação. Esta é a breve informação do Rio de Janeiro; resta pedir a V. R. nos encommende e faça encommendar muito a Nosso Senhor, e tenha particular memoria dos que residem e ao diante residirão naquella nova povoação, offerecidos a tantos perigos, da qual se espera haver de nascer muito fructo para gloria do Senhor e salvação das almas. Desta cidade do Salvador da Bahia de todos os Santos, aos 9 de Julho de 1563.

Minimus Societatis Jesu.

JOSEPII.

CARTA DE HENRIQUES DIAS.

(Estrahida do Valeroso Lucideno, pag. 334.)

Porém Henrique Dias, governador do terço dos negros. crioulos, mulatos, Angolas e Minas, com ser um negro crioulo, ficou tão picado, tanto que leu estas cartas, que sem o fazer a saber aos nossos Mestres de campo, respondeu secretamente aos Flamengos, e mandou por os seus descubridores do campo deitar a resposta junto á porta da fortaleza das cinco pontas, atada em um páu, de sorte que em se abrindo a porta da fortaleza, forçadamente a haviam de ver e ler os que della sahissem, ou nella entrassem; e foi a carta tal, que nunca mais os Hollandezes mandaram deitar similhantes cartas por os caminhos, nem usaram de similhantes estratagemas, e a resposta dizia assim.

cem

<< São tão manifestos e claros os embustes e enredos de vossas mercês, que até as pedras e os páus conhesens enganos, áleivosias e traições, não fallo de mim, que com perda le minha saude, e derramamento de meu sangue me fiz doutor no conhecimento desta verdade. Quando vossas mercês mandaram á Bahia a pedir

е

ao governador Antonio Telles da Silva soccorro de infantaria para aquietar estes moradores de Pernambuco, que se haviam rebelado, não estava eu, nem o governador dos Indios D. Antonio Fellipe Camarão na Bahia, que eramos idos havia muitos dias a certas empresas de importancia ao sertão, o lá tivemos aviso dos moradores desta terra, em como por se livrarem das crueldades, traições, roubos, e tyrannias, que vossas mercês com elles usavam, se haviam rebelado, e estavam com as armas nas mãos, deliberados, ou a ficar livres de tão tyranno jugo, e deitar a vossas mercês da terra, ou a perderen as vidas na demanda. Ouvido sua razão, conhecendo quanta razão tinham de se levantarem, nos puzemos ao caminho, e os viemos ajudar e entrando nesta capitania soubemos de certo, que havendo vossas mercês mandado vir a infantaria da Bahia para aquietarem a terra, tanto que viram desembarcados em terra os nossos soldados, lhes mandaram queimar os navios, em que haviam vindo, e determinaram matal-os a todos enganosamente, não tendo embarcações para se tornarem e por esta razão se deliberaram os dois Mestres de campo de se defenderem de vossas mercês; e eu e o governador Camarão de os defender de tudo o que pu lessemos, e démos nossa viagem por bem empregada. Meus senhores Hollandezes, meu camarada o Camarão não está aqui, porêm eu respondo por ambos. Vossas mercês saibam que Pernambuco é sua patria e minha, e que já não podemos soffrer lanta ausencia della: aqui havemos de perder as vidas, ou havemos de deitar a vossas mercês fóra della, e ainda que o governador geral e S. Magestade nos mandem retirar para a Bahia, primeiro que o façamos lhe havemos de responder, e dar as razões que temos para não desistir desta guerra. O caso é que se Vossas mercês se querem render, e entregar o Arrecife, lhe faremos todos os honrados partidos que forem possiveis; e se se enfadarem de estar encurralados nesse Arrecife, e quizerem sahir a esparecer, e dar uma sahida cá por fóra, livremente o podem fazer, e aqui os receberemos com muita alegria, e lhe daremos a cheirar as flores que produzem e brotam os nossos mosquetes. Deliberem-se com

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