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gados, mantimentos, e tudo o que podia satisfazer a sua ira, e causar damno ao partido contrario.

Cercado o fortim, mandou o Governador Amador Bueno guarnecer as casas com alguma gente; e para que melhor pudesse attender ás necessidades dos cercadores, se retirou a uma alta atalaya com o resto das tropas. De noite intentaram os cercados queimar as casas, e não faltaram logo cinco Embuábas, que, fingindo-se Paulistas fugidos do forte, se animassem á empresa, e pegassem o fogo, mas com tão mau successo, que conhecendo os Paulistas o engano, lhes tiraram as vidas; e para evitarem novo accidente se conservaram d'alli por diante ambos os partidos em vigia. Ao amanhecer tornaram ás armas, e mostrou o successo que na mesma noite tinham cuidado os Paulistas em queimar tambem as casas do forte, porque de manhãa viram uma guarita fabricada por João Falcão em um lugar, que descortinava e interior do forte, de donde lhes lançaram tantas frechas accezas sobre as casas, que eram de palha, que ateando-se o fogo, foi mui difficil apagal-o.

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Mandou tambem Ambrosio Caldeira sahir do fortim dezeseis cavallos, os quaes encontrando ao sabir aos Paulistas, lhes deram uma valente carga, e os obrigaram a buscar as casas, junto ás quaes se travou a escaramuça, ainda que com partido muito desigual, porque os Embuábas pelejavam em campo razo e a peito descoberto com alguns Paulistas, que dando a conhecer. o seu valor se deixaram ficar no campo, retirando-se os mais ás casas, donde a peito coberto e com pontaria certa damnificaram muito aos Embuábas. Signalou-se nesta occasião Francisco Bueno, a quem acompanhava um filho de poucos annos, cujo valor mereceu especial memoria; porque ferido com uma bala em um braço, respondeu ao pai, que o reprehendia de ter sahido ao campo, que para tão generoso successo tinha entrado na peleja. Signalou-se tambem Luiz Pedroso, e outros; e finalmente chegada a noite, e mortos quasi todos o Enbuábas, apartou o escuro a contenda.

Acabado o choque, mandaram os Paulistas, que guarneciam as casas, pedir ao Bueno, que estava na atalaya

com a maior parte do exercito, munições; mas achando-o os mensageiros com animo de levantar o cerco, e retirar-se, ou porque o medo os incitava áquella resolução, ou porque se tinha mettido entre elles a discordia, voltaram para as casas, desanimando muito com esta noticia aos que as defendiam. Não faltaram logo alguns, a quem parecesse bem a resolução, e quizessem seguir o exemplo: mas Luiz Pedroso, sentindo o desmaio, lhes fez uma practica, dizendo que estando a victoria nas mãos, seria cobardia deixar o inimigo já prostrado, e quasi rendido; e que ausentando-se os companheiros, caberia maior gloria aos poucos que vencessem; que para elles vencerem não eram necessarios mais, pois os tinha ensinado já a experiencia que sem elles tinham até então pelejado, e reduzido ao inimigo ao miseravel estado em que se achava; e que podendo elles só resistir a tantos, porque não poderiam agora render aos poucos, que restavam. E finalmente, que no caso em que elles tambem quizessem pôr nodoa na sua fama, deixando cobardes a batalha, que elle o não faria; pois lhe seria melhor ficar morto como valente no campo, do que apparecer com o desar de fugitivo em S. Paulo,

Animados com estas razões invistiram ao fortim com tal furia, que fazendo muito fogo, e mettendo grande espanto, determinaram render-se os cercados. Houve treguas para se ajustarem as capitulações da entrega, offerecendo os cercados com as armas tudo o que se achasse no forte, contentando-se com que lhes permittissem os vencedores as vidas: mas como houvessem alguns Paulistas, que lembrados da mortandade do Capão, e esquecidos do assento que tinham feito em Pousos altos, de não fazerem mal aos Embuábas que livremente rendessem as armas, não quizessem acceitar mais condição do que tirarem a todos as vidas, não foi possivel ajustar-se nada. Por cartas, que lhes lançavam em frechas os Paulistas que estavam nas casas, sabiam os sitiados a má vontade que havia em alguns do arrayal inimigo, e ainda assim continuaram propor algumas condições: mas como uns lhes concedessem as vidas, e outros lhes respondessem com os tiros das escopetas, pe

diram finalmente que ao menos deixassem sahir livres as mulheres e os meninos: mas era tal o orgulho e má vontade dos que já se suppunham victoriosos, que nem isto quizeram admittir.

Passados dois dias, movidos os cercados com a ultimna desesperação, determinaram morrer autes pelejando no campo como valentes, do que perder as vidas como cobardes no recinto do forte; e para darem mostras da sua determinação, amanheceu arvorado no terceiro dia um estandarte branco no mais alto da muralho. Persuadiram-se os Paulistas que era aquella côr signal de entrega, e com as salvas de mosqueteria trataram logo de festejal-a: mas os cercados com os seus mosquetes e clarins declararam a tenção que tinham de pelejar; e fazendo primeiro um ensaio dentro do forte, sahiram arınados de espadas e pistolas, investindo com grande furia aos Paulistas, que os receberam mettidos nas casas. Persistiram algum tempo no campo, mas como do seu valor não tiravam mais fructo do que perderem, como valentes, as vidas, porque os Paulistas com pontaria certa e sem risco os acabavam, tocaram a recolher, sem mais fructo do que deixarem no campo alguns mortos.

Recolhidos continuaram até á noite a peleja com as armas de fogo, tendo até então perdido os Embuábas oitenta homens, e os Paulistas sómentes oito, com não poucos feridos, de que perigaram tambem alguns. Foi a causa desta notavel desigualdade a vigilancia que havia da parte dos Paulistas, e a destreza com que usavam das escopetas, pois apenas apparecia sobre a muralha alguma cabeça, quando logo com um pelouro a faziam victima da sua ira; e como obrigavam assim aos sitiados a pôr sómente a bocca das suas clavinas sobre o muro, e a disparar sem pontaria, evitaram os damnos, que tanto lamentavam os seus contrarios. Vendo finalmente os Embuábas que sem remedio perdiam as vidas, se resolveram então ao ultimo esforço, determinando sahirem todos no dia seguinte. Prepararam-se toda a noite, e deixando sobre a muralha uma imagem de S. Antonio, sahiram do forte ao amanhecer de um sabbado, com tal fortuna que já não acharam com quem pelejar; porque os Paulistas, ou dis

cordes entre si, ou temerosos com a noticia de mil e trezentos homens, que do Ouro Preto marchavam a soccorrer os sitiados, tinham fugido naquella noite sem serem sentidos.

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Foi voz constante que ao voltarem os Embuábas para o forte acharam a S. Antonio em outro lugar com bala engastada no cordão, e a uma imagem de Nossa Senhora com um milagroso suor; e que agradecidos ao seu bemfeitor o levaram em procissão, e o collocaram com grande jubilo no seu antigo lugar. Em quanto porém se celebrava no forte a não esperada liberdade, caminhavam para S. Paulo os desertores com tal pressa. que chegando pouco depois as tropas, que vinham soccorrer aos sitiados, já não os encontraram, ainda que levados da furia militar lhes seguiram por oito dias os alcances. Com este mau sucesso não desmaiaram os Paulistas, antes como valentes Antheos cuidaram em alistar soldados, e eleger novos cabos: mas estando já em bons termos a empreza, appareceu Antonio de Albuquerque com o governo de S. Paulo, e apertadas ordens d'ElRei, para que fossem os Paulistas habitar pacificamente as Minas, impondo graves penas aos que primeiro violassem a paz; e entendendo o Soberano que animos generosos se deixam vencer com qualquer affago, lhes enviou pelo novo Governador um retrato seu, que ainda hoje se conserva na casa da Camara, para que entendessem que visitando-os daquelle modo, já que pessoalmente o não podia fazer, tomava aos Paulistas debaixo da sua real protecção. Com este singular favor se satisfizeram os Paulistas, e esquecidos dos aggravos passados depuzeram as armas.

CAPITULO 38.

RELAÇÃO DO LEVANTAMENTO QUE HOUVE NAS MINAS. GERAES NO ANNO DE 1720, GOVERNANDO O CONDE DE ASSUMAR D. PEDRO D'ALMEIDA.

Vespera de S. Pedro á noite desceu do morro do Ouro Preto um motim de gente armada, e da parte do Padre Faria se levantou outro, e junto ambos accommetteram a casa do ouvidor geral o Doutor Martinho Vieyra; e sahindo este da casa, escapou da furia, e da morte. Subindo-se uns desses amotinadores acima, lhe destruiram tudo o que tinha em casa, lançando das janellas as Orde- ́ nações do Reino, os livros da Fazenda Real, e todos os mais papeis pertencentes ao seu ministerio, lendo-se as sentenças e despachos com escarneo e vituperio do ouvidor, cuja vara empunhava um dos amotinadores, clamando ao povo se queriam que lhes fizesse justiça que elle alli estava, acompanhando com esta acção algu mas vozes e palavras de ignominia contra o dito ministro.

Feito este primeiro insulto, começaram a dar vozes dizendo: viva o povo, viva o povo, e assim foram augmentando parciaes, dos quaes uns por vontade, e outros á força, e por evitarem os damnos de lhes quebrarem as portas e mais extorsões sanguinolentas, que faziam, os seguiam nesse motim. Vieram logo a incorporarse, e a fazer-se fortes no alto da casa da Camara, e Igreja de S. Quiteria: e ahi elegeram um Juiz do povo, ou cabeça, que fosse seu lingua. No dia seguinte de S. Pedro mandaram um boletim com uns capitulos ao Conde de Assumar, General das Minas, que com prudencia lhes respondeu que se aquietassem, porque elle paternalmente Irataria do bem commum o povo, e que algumas cousas que pediam, vinham resolutas por S. M. nas cartas que recebera da frota: e quanto ás demais, tinha chamado os ouvidores para outros negocios, e de caminho lhes proporia as suas razões, para se tomar o parecer que a todos fosse conveniente.

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