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dois dos quaes (o do Imperio e dos Estrangeiros) tomaram assento na mesa do Instituto na qualidade de Vice-Presidentes, e os outros collocaram-se no lado direito da sala. Chegando ao lugar que lhe era destinado, S. M. saudou ao Corpo diplomatico, aos membros do Instituto, e aos demais convidados, tomou assento á direita de sua Augusta Irmaa, e ordenou que todos se sentassem; e desde que entrou no salão até occupar a cadeira do throno, uma brilhante orchestra, que se achava na sala contigua á da sessão, executou o hymno nacional.

Apenas S. M. I. sentou-se, o Exm. Sr. Visconde de S. Leopoldo, Presidente do Instituto, alcançada permissão do alto Protector do mesmo, abriu a sessão por um eloquente discurso, o qual foi acolhido com geral approvação do illustre auditorio.

Findo este discurso, seguiu-se o Relatorio dos trabalhos do Instituto durante o terceiro anno social, recitado pelo Secretario Perpetuo o Illm. Sr. Conego Januario da Cunha Barbosa. A superabundancia das materias que se deviam relatar ao publico em prova dos progressos do Instituto, os muitos trabalhos de que elle se occupou durante o anno, e o grande numero de offertas de valor que teve, faziam receiar que o Relatorio do Sr. Secretario Perpetuo pecasse por longo. Todavia, apesar de ser bastante extenso, a ordem com que foi arranjado, a eloquencia com que foi escripto e a pureza da linguagem fizeram desapparecer a monotonia que de ordinario acompanha taes relatorios, e este ultimo do digno Secretario Perpetuo do Instituto, que foi ouvido com grande satisfação, se não é superior aos anteriores, ao menos afastou-se da rotina commum de taes peças de eloquencia, pois apresentou idéas ainda não publicadas ácerca dos aborigenes do Brasil, e das revoluções porque parece ter passado esta rica e vasta parte do mundo. Honra ao illustre litterato brasileiro, que apesar de se achar em avançada idade e sobrecarregado de trabalhos, ainda assim não deixa de aproveitar as horas vagas de suas occupações em continuar a prestar serviços á historia de sua patria !

Seguiu-se ao Relatorio um discurso em que se fez menção dos meritos de sete membros do Instituto que falleceram

este anno, recitado pelo illustre socio effectivo o Sr. Dr. Thomaz José Pinto Serqueira, que suppriu n'este acto a falta do Orador do Instituto o Cavalleiro Diogo Soares da Silva de Bivar, o qual adoecêra poucos dias antes d'esta sessão anniversaria.

Terminou por fim este acto academico o socio effectivo o Sr. Manoel de Araujo Porto Alegre, recitando uma erudita e eloquente Memoria sobre a escola antiga de pintura no Rio de Janeiro, na qual desenvolveu a historia d'esta arte preciosa n'este paiz, lembrando os artistas que por ella mais se distinguiram, antes da reforma por que passou depois de estabelecida a côrte portugueza n'esta cidade.

No intervallo de cada um dos discursos tocaram-se bem escolhidas peças de musica, e a sessão terminou pela declaração do Presidente, alcançada venia de S. M. I.. o qual foi reconduzido até a porta do Paço com a mesma solemnidade da sua entrada.

***

(Abaixo publicamos em sua competente ordem os Discursos pronunciados n'este acto solemne).

DISCURSO

DO PRESIDENTE O EXM. SR. VISCONDE DE S. LEOPOLDO.

SENHORES.

Se na primeira sessão anniversaria do nosso Instituto contemplei os espaços immensuraveis a perlustrar, penosas explorações, ás vezes á custa da existencia, para desempenho da ardua empreza á que vos dedicastes, não foi certamente para desalentar-vos, sim para mais excitar o sentimanto de vossas proprias forças, o aguilhão do genio, á vista da escabrosa e difficil vereda, que conduz

ao templo da sabedoria, onde vos esperam os laureis academicos. Lamentava o guerreiro que não houvessem mais mundos para subjugar (*); differentes felizmente são as apprehensões, que deixam as conquistas da intelligencia, as descobertas scientificas; n'estas, pelo encadeamento intimo de todas as verdades, á medida que se avança, o campo a percorrer se dilata, limitado por um horizonte, que recúa tambem sem cessar; OS talentos rasteiros são os que crêem ter o espirito humano chegado em cada época ao ponto culminante da sua marcha progressiva.

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Homenagem de cordial gratidão rendamos ao nosso Augusto Protector; se o Céo não o houvesse dotado de amor ardente pelas lettras, talvez hoje não nos achassemos aqui reunidos. Deu-nos estabilidade; foi o astro brilhante do dia, que desenvolveu o germen, e sazonou os fructos do genio; que dissipou os receios, os agouros de má ventura, adduzidos da sorte precaria, que tiveram outras associações anteriores; esvaeceu as prevenções de que o solo virgem do Brasil não estava ainda preparado para n'elle vingar a planta tenra e mimosa d'estas instituições: d'aqui a diffusão das luzes por toda a vastidão do Imperio, mediante a associação das notabilidades de cada provincia; o enthusiasmo com que á porfia contribuem com o seu contigente para a grande obra da illustração geral; a confraternidade das Academias mais celebres, até dos confins da Europa; as eminencias sociaes d'um e d'outro hemispherio, alistadas em nosso gremio; tão espantosos successos em tres annos apenas de duração: não nos pejaremos de confessar, pois não é tanta nossa modestia que deixemos de aceitar, como bem cabido premio das nossas diligencias, benignamente secundadas pela Imperial Protecção, os louvores, as felicitações, e o demonstrado apreço com que naturaes e estranhos nos tem favorecido.

Quando a Providencia se apraz de dar aos povos tacs monarchas, não só fórmam elles a prosperidade do seu reinado, mas ainda preparam e fecundam os grandes acontecimentos, que marchando encobertos atravez dos

(*) Plutarc.-Vita Alexandri-vol. III, cap. V, edição Schæfer.

tempos, se manifestam em acção, logo que se combinam circumstancias, que revelam uma necessidade nos destinos do mundo; e não é de menor valia o nobre estimulo que legam á posteridade n'esses preciosos exemplos n'esses modelos de possivel perfeição humana, principalmente se acompanhados são de maravilhosas coincidencias.

Na meia idade, Carlos Magno, com as mãos triumphantes, com que fez resurgir um imperio (Leão III lhe cinge em Roma o diadema dos Cesares, e o primeiro se prostra ante elle; á esta scena retumba a igreja de S. Pedro com as acclamações de um povo abatido, nos desvarios do orgulho extasiado com a imagem do seu antigo esplendor), com as mesmas mãos escrevia os capitulares, monumentos que tem o cunho do seu genio, e honrariam os seculos os mais illustrados; attrahia de todas as partes e affagava os doutos; fundava escolas nos conventos; e com espantosa extensão de vistas abrangia os mais minuciosos ramos da administração grande homem, grande rei, grande legislador, lançado como brilhante excepção em meio de um seculo barbaro e de trevas, ia resfolegar de tanta lida na sua favorecida Academia Aulica, presidida pelo celebre Alcuino (*); confundindo-se como simples socio entre os sabios, alli se debatiam as doutrinas sagradas e profanas, e até as exactas.

Na Dynastia Bragantina, o Rei magnanimo, o Senhor D. João V, depois da campanha a mais gloriosa, que conta Portugal (o Brasil lhe deve com especialidade a regulação de seus limites), voltado ás artes da paz, fez erigir em Roma edificio digno da sua grandeza para as reuniões da Academia dos Arcades, da qual era socio, debaixo do appellido modesto de um pastor; mas o sublime padrão da sua devoção ás lettras, e da mais transcendente utilidade, foi a Academia Real da Historia Portugueza, composta dos mais distinctos da nação em litteratura e nobreza: como testemunho do maior apreço,

(*) Alcuino, de um talento extraordinario, natural da cidade de Yorck, em Inglaterra: Carlos Magnoo attrahiu á França, deu-lhe muitas e pingues Abbadias, e o tratava como um amigo; ficaram d'elle muitas obras em diversos ramos.

designou para suas conferencias o palacio da Serenissima Casa de Bragança, e nos Paços Reaes recebia benevolo suas homenagens e discursos, em solemnes deputações (*

Era para aqui talhado de molde o exemplo do egregio Principe, que sempre grande, sempre admiravel, abdicou duas coroas, para mais soltamente gyrar na orbita de gloria, que lhe estava destinada; elevado o Brasil ao que hoje somos, e livrando Portugal dos ferros do despotismo, descançando por fim á sombra das palmas da victoria, não se dedignou aceitar a Presidencia da Academia Real das Sciencias de Lisboa, a qual, em memoria, ainda lá venera a copia fiel, que obteve de S. M. a Imperatriz viuva : não ousarei resumir em rude e humilde discurso um nome e as acções, que enchem dous mundos.

O gosto pelas sciencias é o sello caracteristico, que a natureza imprime nas almas formadas para aspirar á gloria; se os soberanos protegem os talentos, estes bem os recompensam, recommendando-os á immortalidade.

Meus charos consocios, está aberto o estadio, não arrefeçaes na carreira: temos por nós o benefico influxo da protecção Imperial; a força e as vantagens, que dá a união das capacidades intellectuaes; se fosse conhecido dos antigos este nosso systema de associações litterarias, se florescessem em Roma academias, Horacio, para não polluir a sisuda companhia do seu amigo Virgilio, de boamente riscaria de seus versos algumas obscenidades; Lucrecio, para não desmerecer a honra de consocio de Cicero, só haveria conservado no seu poema os traços sublimes, com que se mostra tão grande pintor, e teria supprimido aquelles, nos quaes em frios versos prosaicos

(*) D'esta prerogativa de dirigir discursos ao Monarcha nas funcções solemnes da côrte, goza o Instituto Historico e Geographico Brasileiro é uma honra avaliada em tão alto grão entre as nações cultas da Europa, que d'Alembert, Secretario Perpetuo da Academia Franceza, no Elogio do Presidente Rosa, Secretario do Gabinete do Rei, recitado na sessão publica de Agosto de 1778, não duvidou fazer positiva menção d'ella, como da mais prestante officiosidade, por elle solicitada, e obtida a favor da Academia Franceza, distincção que até alli só era privativa das corporações soberanas,

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