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Sr. Fabbrini ha de durar bem annos no Brasil, e será eterna em nossa Associação.

O nome, que agora me resta, é o de um mancebo morto na flor de seus annos, mas cuja breve passagem n'este mundo deixou para sempre recordações saudosas: quero fallar do Sr. Julio Frank. Quem era elle? Eu e os que no Brasil o conheceram, o ignoramos. Era esse o seu verdadeiro nome? Cuidamos que não. Que terra o viu nascer? Parece que a Alemanha, mas não se sabe que parte d'essa vasta região. A que familia pertencia? Ignora-se, Que motivos o trouxeram ao Brasil? Ainda a mesma obscuridade. Sabemos apenas que chegou ao Rio de Janeiro sem o mais pequeno recurso; e que o primeiro carinho, que recebeu n'esta terra hospitaleira, foi uma ordem de prisão, e sua primeira morada à fortaleza da Lage; e isto por uma queixa que d'elle deu o commandante do navio que o havia conduzido. Tambem Epicteto encontrou um senhor que lhe quebrou as pernas.

Tendo obtido sua soltura, foi servir em uma estalagem! Quem diria, Srs., ao ver esse mancebo reduzido a tal penuria, que n'elle se escondia um homem do mais raro merecimento que conhecia a fundo as linguas vivas da Europa, e mesmo a latina e grega: que era habil geometra, e metaphysico; que não era hospede nos principios do direito publico e nos do romano, e que tinha perfeito conhecimento da historia antiga e moderna? Pois tudo isto era, e o homem que tudo isto sabia, era caixeiro em uma estalagem!

Tal homem não podia conservar-se por muito tempo em tal posição: quando outra causa não fosse, a elevação natural de seu genio e a consciencia de seu valimento não o podiam ter por muito tempo em tão baixo estado. O Sr. Julio Frank retirou-se para a Provincia de S. Paulo, villa de Sorocaba, onde abriu aula de Francez, Inglez, Italiano e Latim. Pequeno theatro era aquelle para seus conhecimentos. Logo depois foi chamado para a cadeira de Historia na cidade de S. Paulo, e deu começo a seus trabalhos organisando um compendio sobre outro alemão, o qual prova bastantemente o que sobre seu merecimento tenho dito. O Instituto Historico e Geographico Brasileiro se

apressou em o admittir em o numero de seus socios correspondentes, esperando que quem tantas luzes possuia, o coadjuvasse valiosamente em seus importantes trabalhos.

Mas a morte nol-o arrebatou, quando ainda não contava trinta annos de idade! Carecerei dizer que todos nós recebemos tão infausta noticia com profunda magoa, e que ainda hoje, e muito tempo, e sempre não ouviremos sem sentida saudade o nome do nosso consocio! Ha cousas tão naturaes, que o encarecimento as faria desmerecer.

Tenho concluido do modo que me foi possivel a pesada tarefa, que me foi incumbida. O trabalho não é digno do objecto, não é digno do Instituto, muito menos é digno de ser apresentado hoje, quando o Soberano do Brasil e uma de suas Augustas Irmãas se dignaram honrar-nos com sua presença. E todavia fiz quanto permittiram minhas forças. Com vergonha o digo! por contente porém me darei se o objecto não fôr avaliado em menos pela fraqueza do Orador; se o Instituto não ficar deslustrado por nodoas, que só a mim cabem; e se a vergonha, que hoje pesa sobre mim, fôr incentivo meus collegas (que o não carecem) para satisfazer, como pódem, a missão de que se incumbiram aceitando o diploma de socios d'esta illustre Associação.

MEMORIA

SOBRE A ANTIGA ESCOLA DE PINTURA FLUMINENSE,

Lida pelo Socio Effectivo o Sr. Manoel de Araujo Porto Alegre.

SENHORES.

A marcha do espirito humano se manifesta por um desenvolvimento oscillatorio, e transições, que ao primeiro correr da vista arripia as mentes acobardadas; mas aprofundada em todos os seus elementos componentes, ella nos apresenta um resultado lisonjeiro para a civilisação, que é comprovado pela analyse comparativa dos seculos. 5

No laboratorio perpetuo das idéas, n'esse oceano da civilisação, as tempestades intellectuaes se manifestam com a mesma variedade, e com a mesma força como no mundo material: elementos heterogeneos se debatem, o embrião de uma nova fórma representado por uma nova idéa apparece, lucta e se engrandece, produz uma revolução, que regenera o povo, e lhe abre as portas de um futuro brilhante.

Esta revolução se assemelha ás enchentes do Nilo, que, depois de alagarem o paiz, desapparecem, deixando a fertilidade no solo, e a abundancia na colheita: outras vezes, porém, a nova idéa é como a peste, que, contaminando-se rapidamente, corrompe a sociedade, e prepara-lhe esse futuro de decadencia, que risca o nome de um povo da lista das nações.

Seria um absurdo, uma anomalia na orbita do espirito humano, a formação de um imperio, a organisação de uma nova sociedade feita por um rasgo de penna do legislador, pela coragem brutal, ou pela vontade de um principe; e o continuar aquella obra independente da concurrencia dos elementos proprios para seu proseguimento: ella seria um monumento sem base, uma arte sem principios, ou uma religião sem crença, e daria em resultado o Imperio de Alexandre.

No theatro das producções do genero humano, as bellas artes, que começam sempre com a religião, são as ultimas que vem sentar-se nos seus bancos a par das sciencias; ellas apparecem ataviadas de toda a sua pompa, e impregnadas das idéas dominantes, como a ultima expressão da mente contemporanea. São mais um thermometro sensivel para o philosopho, porque marcam o pensamento da épocha, e o contacto mais ou menos intimo com a civilisação d'esta ou d'aquella nação.

A archeologia tem, n'esta parte, trilhado uma vereda tão segura, que, em despeito a tradições erroneas, póde pelos vestigios de um templo, pelos restos de seus muros, pela sua ordenação, pelos fragmentos de sua architectura, pela execução de suas partes, pela expressão symbolica de suas esculpturas, por uma medalha, por um sarcophago, por uma encaustica, e por um fresco de muro, ou de soffito,

fazer uma combinação engenhosa, uma comparação com os factos precedentes, que apresenta em resultado a verificação de uma épocha, e uma correcção na historia.

Descartes foi o creador d'esta nova sciencia, quando disse, que o motor principal dos progressos do espirito humano não era sómente a tradição, mas sim a analyse.

Todas as applicações que são susceptiveis de engrandecerem as sciencias, empregadas nas bellas artes, dão um igual resultado; porque estas não são mais que a intelligencia applicada á materia na escala do bello.

Aquillo que a Europa e o Oriente nos mostram em um vasto panorama, a America e o nosso Brasil tambem o manifestam em seus curtos periodos.

A Colonia, o Reino e o Imperio formam tres divisões salientes de nossas phases progressivas, é do seio da primeira, Senhores, que venho arrancar do esquecimento alguns nomes illustres nas artes, nomes de artistas, que honram a terra em que nasceram, e que fundaram a primitiva Escola Fluminense, que de certo merece uma menção honrosa em nossos annaes, não sómente por serem os primeiros n'esta terra, como tambem pela valentia de suas obras.

O desleixo das cousas artisticas no nosso paiz, e um certo desprezo, que felizmente acabou, para as bellas artes, caracterisou sempre os nossos maiores; as idéas do sublime e do bello andam foragidas, todas as vezes que nos foros e nos porticos predomina o trafico. As idéas e as doutrinas que acompanham o trafico lançaram a mai patria no abysmo do aviltamento, ellas suffocaram as mais doces emoções do genio, e nos deixaram por herança o terrivel systema das transacções.

Dir-se-hia que uma colonia carthagineza aportára em nossas plagas; as idéas do provisorio, a avareza de uma rapida fortuna resentem-se ainda hoje, e, para melhor dizer, fazem o pensamento soberano da épocha: as corporações religiosas, mais sabias e previdentes, marchando de encontro ao ciganismo, apresentam esses resultados monumentaes, esses templos aonde a religião amparou as artes, deu-lhes uma vida, e obstou seu total aniquilamento. O Brasil não tinha de percorrer essa escala secular da Gre

cia e de Roma, para passar da pedra do Druida ao Pantheon, ou da primitiva cabana ao Parthenon do Acropolis. Uma nação guerreira e civilisada, e no seculo de Leão X, o conquistou, lutando heroicamente contra os elementos proprios de um paiz selvagem; mas ella não comprehendeu o immenso futuro d'esse paraiso conquistado, e não soube legar ás gerações vindouras um plano de grandeza e de prosperidade.

O Brasil era administrado como uma fazenda alheia, os homens do passado com a ampulheta na mão, satisfaziam suas necessidades horarias, e só plantavam a arvore que mais breve lhe dava fructo: a épocha do reinado é a mais saliente para demonstrar esta verdade.

Vamos ás bellas artes.

O pintor historico mais antigo, que conhecemos até hoje, é Fr. Ricardo do Pilar; este celebre artista produziu muitos paineis, que se acham espalhados por alguns templos d'esta cidade; elle é o auctor dos quadros de tecto e paredes lateraes da igreja dos Benedictinos, a unica igreja em regra do Rio de Janeiro; mas aquelle que funda a sua gloria é o painel que representa a imagem do Salvador, collocado no altar da bella sacristia do convento.

Muito além de Giolto e Cimabue, aquella imagem produz em nossa alma a mais elevada inspiração religiosa; ha n'ella uma magia incomprehensivel de expressão e harmonia; a sublimidade da poesia mystica, a crença só podem produzir semelhantes maravilhas, e sem estes sentimentos angelicos a terra não possuiria o retrato do Salvador por André del Sarto, o Ecce Homo de Cigoli, e o Nascimento de Jesus Christo de Siqueira.

Fr. Ricardo do Pilar é o quinquagesimo segundo mortal que acolheu o claustro de S. Bento, viveu n'aquella casa mais de 30 annos, e professou em 24 de Maio de 1695, e no dia 12 de Fevereiro de 1700 entregou sua alma a Deus.

O Dietario Benedictino memora a acquisição d'aquelle monge na ordem com uma solemnidade e uma pompa, que honram a corporação.

Era natural de Colonia, em Flandres, e deslisou a sua vida entre a unção edificante da religião, e o perfume das

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