da cana he prodigiosa. Os algodões dão não só o vestuario das familias pobres, e da escravatura, mas tambem o superfluo, que faz hum ramo de commercio, A cultura do anil, e cochonilha não se tem por ora adiantado.

Dão-se varias fructas da Euroropa, não só as das outras partes do Globo, e as indigenas. A banana ou da terra, ou de S. Thomé, como lhe chamão, he fructo de todo o anno, e por isso sem duvida de menos preço no Paiz, sendo aliàs hum dos melhores do mundo. O ananaz não tem par. Em toda a parte se achão excellentes laranjas, e limões, e principalmente a tangerina, que começando na Comarca do Rio das Mortes, se estende depois ás outras; ha a selecta transplantação do Rio de Janeiro. As limas são menos más. Ha melancias, poucos melões, é uvas: a maçã, a ameixa, a castanha, além de raras, não tem o bom sabor das da Europa. Pouquíssimas peras; po

rém muitos bons figos, pecegos, alguns damascos, mórmente para as partes do Poizo Alto, romans, e marmello em grande copia.

A conquista do Gentio ao prin cipio, e depois a aquisição do ouro fizerão com que os habitantes de S.. Paulo, hoje Cidade, e Capitania. deste nome, rompessem os matos, que occupavão, e encobrião a de Minas. Não se concorda ao certo. quem fossem seus primeiros des cobridores; sabe-se porém que es tabelecida a povoação de S. Pau lo em 25 de Janeiro de 1554, celebrando-se neste dia a primeira Missa, dia da Conversão de S. Paulo, tomando por este motivo o nome do Santo, concorrêrão alguns dos seus povoadores em penetrar a densida de dos matos, en alcance do gentio, sem munição alguma de boca, providos somente de armas, polvora, e chumbo: os Paulistas, arrostárão todos os perigos: a caça, o peixe, o mel silvestre, lhes servião de alimento ordinario, e na diligencia

de captivar os Indios, lançário os fundamentos Capitania de Minas, a que depois dérão o nome de Geraes, por apparecer ouro, mais ou menos, en toda a sua extensão.

Em tanto descuido que nos occulta os primeiros homens, que entrárão em Minas, e os lugares entrados, transluz memoria que o sertão da Casca nome derivado de huma Aldéa de Indios estabelecida no lugar presentemente chamado Cuyethé, ao meio-dia, e a cinco legoas do Rio Doce, foi primeiro invadido em 1693 por hum homem natural da Villa de Taboaté, chamado Antonio Rodrigues Arzão, e que viera acompanhado de cincoenta homens; e apresentando-se este aventureiro na Capitania do Espirito Santo, manifestou ao Capitão Regente della tres oitavas de ouro, as primeiras de que se acha relação no registo da Cidade de S. Paulo, descobertas nas Geraes.

Foi se Arzão no projecto de adianter suas explorações, buscan

do o Rio de Janeiro, e de volta des. ta Cidade, na de S. Paulo gente, e meios, que não achava na Capitania do Espirito Santo. Cortado de trabalhos enfermou em S. Paulo, e vendo-se proximo á morte, commetteo a Bar holomeu Bueno, seu cunhado, a continuação do descuberto, cujas mostras havia já dado ao manifes

to.

Não tardou Bueno, escoltado de amigos, e parentes, em se fazer prestes para a empreza, que lhe fora recommendada. Partírão da Villa de S. Paulo em 1694, e com os olhos fitos no roteiro de Arzão, entranhados nos matos geraes, servindo-lhes de ponto fixo o cume de algumas serras, sahírão em fim na de Itaveraca. Ahi semeárão meio alqueire de milho; mas como a paragem fosse esteril de caça, demandárão a do Rio das Velhas, em tanto que a plantação de que pertendião viver, não chegasse ao estado de se poder aproveitar. He de crer que Bueno gastasse na sua digres

são de S. Paulo a Minas longo témpo; não consta presentemente isto; mas sua colheita de milho, feita de volta do Rio das Ve has depois de hum anno, sobe ao de 1698 Estando pois na Itaveraca se encontrou com Salvador Fernandes Furtado, Manoel Garcia Velho, e com outros conquistadores do Gentio. Cuidárão então os primeiros Aventureiros da extracção do ouro, em que empregavão os Indios, que reduzírão ao captiveiro nos sertões de Cuyethé, e Rio Doce; faltava-lhes prática, e instrumentos de ferro, de que a lavoura, mineral precisa, e por tanto devião ser modicas as apurações que fazião em pequenos pratos de páo, e de estanho, dos cascalhos, e formações, que extrahião ajudados de páos ponteagudos. Da pobreza destes serviços deo boas provas Miguel de Almeida, hum dos companheiros de Bueno; porque concertando-se com Salvador Fernandes, de novo chegado, a troca de huma clavina que trazia,