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Pertence tambem ao tempo de Dom João 1 o romance do Conde Niño, fundado sobre a historia dos amores do Conde Dom Pero Niño, que casou com uma infanta portugueza; (1) na versão da ilha de Sam Jorge, este romance traz o titulo de Dom Pedro Menino, o que mais certifica a realidade historica.

8-Entre os vestigios da poesia popular no tempo de Dom Duarte (1433-1438), temos além da fórma do rymance, que elle pela primeira vez cita, a prohibição de «cantar cantigas sagraes» que no Leal Conselheiro se enumera entre os peccados de boca. Tendo-se banido os cantos populares do povo, e substituindo-os pela lingua latina, levantou-se no seculo XIV essa expansão fervorosa dos Lollards, que se derivou da Allemanha para toda Europa em 1309: «Lollardi, sive Deum. laudantes, vocabantur» diz Joannes Hesemius. No fim do seculo XIV, como vimos, manifestou-se em Portugal a maior efflorescencia da poesia popular, e a prohibição das cantigas sagraes era a condemnação dos Lollards, costume que ainda subsiste nas ilhas dos Açores, colonisadas no principio do seculo XV, aonde hoje mesmo povoações inteiras divagam de pés descalsos correndo todos os sanctuarios, improvisando cantigas ao divino. No Index Expurgatorio de 1597, lá se acham prohibidos em Portugal os Lollards. (2) Os romances sacros, originados pelo genio arabe, sustentaram-se do scculo

(1) Romanceiro geral, n.o 14, e not. a pag. 184.---Cantos do Archipelago, n.o 28. (2) FI. 49.

XV até nossos dias por esta influencia condemnada pelo canonismo.

Foi no seculo XIV, que o genio poetico dos povos da Peninsula attingiu uma altura surprehendente; nunca a humanidade mostrou tanto vigor de concepção; tudo quanto ha nos Romanceiros hespanhoes verdadeiramente bello e anonymo data d'este periodo unico da historia, sendo por mera curiosidade recolhidos pelos livreiros em folhas volantes. Em Portugal não se recolhiam senão as Canções cultas; mas para se vêr qual a riqueza estupenda da poesia do povo portuguez no seculo XV, basta lançar os olhos pelos Cantos populares do Archipelago açoriano, que, apesar de andarem incertos na tradição oral, apresentam cantos antigos desconhecidos nas collecções hespanholas, e em que os usos dos Foraes ainda estão vigentes.

9-O caracter da poesia do povo no reinado de Dom Affonso v (1438-1484) é ainda o mesmo dos Lollards. Na Ordenação Affonsina, fala-se nas danças dos mouros e judeos, que tinham de saír ao encontro do rei em certas festas; prohibe os clerigos jograes, bem como: «o tergeitador, e qualquer outro que por dinheiro por si faz ajuntamento do povo; e o goliardo, que ha em costume almoçar, jantar, merendar ou beber na taverna; e bem assy o bufam, que por as praças da villa ou logar traz o almáreo ou arqueta ao collo, com tenda de marçaria para vender»; (1) por esta

(1) Ord. Affons., liv. n, tit. 15, § 18.

Ordenação os clerigos que andavam n'esta vida, a que em Hespanha chamava o Arcipreste de Hita la tuna, e nós ainda tunante, perdiam o fôro privilegiado e caíam na jurisdicção secular. No Cancioneiro de Resende, lê

mos:

Estudantes pregadores
metem santas escripturas

em sermões

dirivados em amores,
fazem de falsas feguras
tentações.

Quando virem tal caminho
de uma prégação s'afastem,
os que ouven,

dem-lhe todos de focinho,

taes metaforas contrastem,
e deslouvem. (1)

Nas Universidades da Europa os estudantes cantavam pelas portas, como sabemos pela mocidade de Luthero; em Hespanha, chamava-se-lhes Sopistas e Estudantes da tuna, e d'elles diz o Arcipreste de Hita:

Cantares fiz algunos...

...para escholares que andam nocherniegos.

(Est. 1489.)

Como typo da Estudantina temos nos Cantos do Archipelago a Xacara do Galante, (2) e os versos a Dona Guiomar da Cutilada. (3) A vida dissoluta dos clerigos e escholares na edade media, deu origem a uma

(1) Fl. 25, col. 1, v. E tambem Sá de Miranda, Carta II est. 33.

(2) Op. cit., n.o 82, pag. 385.

(3) Cancioneiro popular, p. 205.

ordem de canções obscenas, em latim, em que as virtudes sociaes e todos os sentimentos, ainda os mais puros eram verberados. Esta confraternidade comica foi personificada no mytho de Golias, d'onde lhe veiu o nome de Goliardos. Peio seculo XIII se vulgarisaram mais taes chocarrices, fustigadas pelo Concilio de Normandia em 1336, e pelos Estatutos synodaes de Quercy. Assim o genio ecclesiastico influenciava de um modo profano sobre e povo, dando-lhe esse caracter licencioso de muitas das suas cantigas. Na Ordenação Affonsina, ha uma prova da existencia dos Goliardos em Portugal.

Á mesma influencia erudita e clerical, se devem attribuir as salvas ou prosas maritimas que os nossos navegadores do seculo XV cantavam. Gil Vicente remata a Nau de Amores com esta rubrica: «Começaram a cantar a prosa, que commumente cantam nas Naus á salve, que diz:

Bom Jesus, nosso Senhor

Tem por bem de nos salvar, etc.»

A Salve era a cantiga do caír da noite, como se deprehende d'estes versos do mesmo Auto:

Y luego todos digamos

La Salve antes del dormir. (1)

(1) Obras de Gil Vicente, t. 1, p. 321.

A prosa tornou-se uma designação usual da poesia do povo; na Italia e na Hespanha assim chamaram ás composições rythmicas cantadas na linguagem vulgar; Berceo, na Vida de San Domingos de Silos, emprega-a significando narração poetica:

Quiero fer una prosa en roman paladino...

Dante no Purgatorio, emprega:

Versi d'amore e prose di romanzi...

(Cant. xxvi, v. 118.)

Commentando este verso, diz Baggioli: «Prosa, no italiano e provençal do seculo XIII, significa precisamente historia, narração em verso.» Nos latinistas ecclesiasticos se encontra como designação hymnologica, d'onde proveiu para a poesia hespanhola, segundo Wolf; pelo contrario Gayangos e Vedia, annotando Ticknor, acham-na introduzida pela poesia provençal. Quer pela poesia ecclesiastica, provençal ou hespanhola, que todas exerceram uma acção profunda sobre o nosso povo, a prosa, segundo uma allusão de Gil Vicente, tem um sentido mais amplo, chegando até a abranger todo e qualquer canto lyrico.

Gil Vicente, o que melhor comprehendeu o genio da Renascença em Portugal, conservou muitas fórmas poeticas da edade madia, que os cultistas desprezaram;

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