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CAPITULO II

Vestigios da Poesia gothica no povo portuguez

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Causas da decadencia da poesia gothica. — A lucta do catholicismo contra o arianismo. Provas da immensa riqueza da poesia gothica. Os cegos cantores e a fórma da Checone.As Strava gothicas são hoje os clamores e cantos dos mortos na Peninsula. Festas de S. João e do Natal e o culto de Freya nos cantos populares. O carvalho de Yggdrasill e a Fonte de Urda nos romances antigos. Ennumeração dos symbolos germanicos na poesia do povo portuguez. — As invasões normandas avivam as tradições gothicas. A aliteração e a rima. -Glossario das palavras scandinavas em Portugal. A lenda de Veland no Minho. Allusão aos bastões runicos nos cantos insulanos.

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De todas as raças germanicas, aquella cuja poesia é menos conhecida, por falta de monumentos, é a raça gothica. Não lhe faltou o sentimento pantheista do seu tronco aryano de que se desprendeu, mas causas fataes fizeram com que a poesia gothica quasi que se extinguisse na sua totalidade. Sabe-se com certeza da sua existencia, porque os historiadores se referiram a ella, ou se approveitaram das narrações epicas para escreverem as suas chronicas; sabe-se tambem porque se deu o seu desapparecimento, vendo a lucta que se travou entre o catholicismo romano e o christianismo d'Ario abraçado pelos godos. O catholicismo apossouse principalmente do godo nobre; o godo lite nunca pode abandonar a ideia da humanidade de Jesus, e sem communicação com os concilios politicos, tarde

*

perdeu as suas superstições e os seus costumes. É este o fio que póde conduzir a procurar no intimo da poesia do povo portuguez esses vestigios apagados do sentimento da raça que nos constituiu. Precisar a influencia da poesia germanica nas epopêas francezas da edade media, é um processo possivel com o rigor dos factos, porque na Vida de Carlos Magno, por Einhard, se diz que este grande monarcha «mandou recolher e conservar na memoria os barbaros e antiquissimos versos, nos quaes se cantava os feitos e as guerras dos velhos reis.» (1) Esta mesma asserção se encontra repetida em dois versos do poeta Saxo. Aqui encontra a critica um veio historico. O mesmo acontece com a influencia germanica em Inglaterra; o rei Alfredo mandava tambem apprender de cór os cantos saxonios, como se sabe pela authoridade do seu contemporaneo Asserius, que nos Annaes de Alfredo, diz: «mandava recitar os livros saxonios, e principalmente apprender de cór os cantos saxonios...» (2) Para determinar a existencia da poesia gothica na Peninsula ha apenas algumas referencias de Jornandes a cantos populares, e ao mesmo tempo o modo como certas passagens da sua historia estão escriptas, que accusam construcções e fórmas poeticas de metaphoras, prosopopêas, dialogos e narrações, aproveitadas de velhos poemas. Jornandes diz que os godos se ajuntavam e recolhiam

(1) Op. cit., cap. XXIX.

(2) Annales rerum gestarum a Elfridi, p. 43. Apud. DuMéril, 281.

p.

em commum as suas tradições historicas em verso; e em outro logar, que os feitos dos seus antepassados eram celebrados com cantos, com modulações e acompanhamento de citharas. (1) Este mesmo costume de formar a historia sobre os cantos populares foi seguido, á maneira de Jornandes, por Affonso o Sabio. A poesia gothica tambem exerceu a sua influencia sobre a litteratura byzantina, como se vê pelo canto dos Varangues, conservado no livro de Porphyrogeneta, o qual Finn Magnussen considera como um poema gothico aliterado. (2) Na Vida de S. Ludgero, se diz que elle era cego, e era amado pelos seus visinhos por que andava cantando em verso os feitos dos reis antigos. A este costume germanico dos cegos cantores, se deve a fórma poetica da Ciecone, que os Lombardos crearam ao residirem na Italia. Esta mesma fórma da Checone se encontra em França, na Hespanha e em Portugal, nos paizes em que se deu a invasão germanica. Na versão manuscripta do seculo xv da Canção de Gonçalo Hermingues, recolhida no Cancioneiro do Doutor Gualter Antunes, vem citada esta fórma:

O que eu ei de la checone sem referta
Mas não ha per que se ber. (3)

(1) Eis os dois celebres trexos, do livro de Jornandes De Gothorum origine: «Quemadmodum et in priscis eorum cariminibus pene historico ritu in commune recolitur. Cap. IV. Ante quos etiam cantu majorum fasta, modulationibus citharisque canebant; Cap. v.

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(2) Du Meril, Histoire de la Poesie Scandinave, p. 16.
(3) Jornal dos Amigos das Letras, n. 3, p. 84, col. 2.

Antonio Ribeiro dos Santos, que adoptou esta versão contra a de Frei Bernardo de Brito e de Faria e Sousa, diz: «Chacone ou Chacona era certa dansa muito airosa, de que usavam os Hespanhoes, palavra certamente antiquissima na lingua, pois que no vasconço, dialecto do primitivo idioma da Hespanha, se acha Chocuna e Chucuna, que significa cousa polida e airosa, como o era esta dança.» Ribeiro dos Santos abona-se com Larramendi, no seu Vocabulario Trilingue. Nas Musas de Quebedo, cita-se o romance do Conde Claros, caído na versão do povo:

Se quedó en las barberias

Con Chaconas de la galla. (1)

Os cantos gothicos eram tradicionaes, ou historicos, considerados como uma instituição nacional, e além d'isso eram cantados pelos cegos, que, como fracos e não podendo tomar parte na guerra, serviam ainda para na paz trazerem sempre incitado o valor. A checona é de origem italiana, mas o facto de apparecer na lingua basca é devido á communicação dos godos que se refugiaram nas Asturias. Ainda nos outros ramos da poesia germanica se descobre uma relação profunda entre os cegos e as tradições poeticas. Assim se lê no verso do Titurel:

So singuent uns die blinden. (2)

(1) Musa VI, p. 455.

1

Apud Du Méril, op. cit., p. 311, not. 8.

No proverbio inglez, usado por Ben Jonhson e Shakespeare, se diz: «As blind as a harper.» Para estes povos aonde se deu a influencia germanica, a palavra cego tornou-se synonimo de poeta: Il Ciecco de Ferrara, Ciecco de Arezzo, Ciecco d'Ascoli na Italia, Lamber l'Aveugle, em França, têm o nome de poetas no epitheto que lhes deram. O Arcipreste de Hita tambem es

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Cantares fiz algunos de los que disen ciegos.

E para muchos otros por puertas andariegos. (Est. 1488).

Na tradição oral do povo portuguez ainda reina esta crença:

Os cegos que nascem cegos
Passam a vida a cantar;
Eu cego que tive vista,
A vida levo a chorar.

Vimos o primeiro vestigio da poesía gothica, que era privativa do povo; em Jornandes encontramos outro veio, que são os cantos funebres, que os godos cantaram nos funeraes de Theodorico II. (1) Adiante estudaremos o costume peninsular dos cantos funebres en

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