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causa, os pontifices e os reis acolheram-n'a de braços abertos. Não foi o nosso D. João no ultimo a recebel-a. Entre os primeiros socios d'Ignacio de Loyola, entre os primeiros que haviam sido fascinados pela palavra de fogo do antigo cavalleiro hespanhol, entre os ferventes sectarios que, reunidos em Paris na collina de Montmartré emtorno do mestre, haviam feito voto solemne de irem á terra santa ou de se pôrem à disposição do papa, havia um portuguez, Simão Rodrigues d'Azevedo. Foi esse o destinado pelo patriarcha da nova religão a ir plantar no extremo occidental da Europa uma vergontea da grande arvore, cujas raizes estavam em Roma, porém cujos ramos, viçosos e flexiveis, haviam de cingir o mundo inteiro no seu vasto e possante abraço.

Tinha grande importancia a missão de Rodrigues d'Azevedo porque Portugal estava sendo a porta do Oriente, e, no seu ardor de missionarios, era esse mundo novo para o christianismo o que elles mais desejariam conquistar. Por isso Ignacio de Loyola enviou a Simão Rodrigues d'Azevedo, para o auxiliar na ardua tarefa que emprehendia, o espirito mais elevado, mais santo, mais nobre, mais puro de todos quantos elle inflammara com o ardor da sua eloquencia e do seu genio. Era esse o grande apostolo das Indias, o homem que ainda hoje é venerado nas terras orientaes, S. Francisco Xavier.

Foi então que principiou a voltar-se para o Brazil a attenção dos portuguezes. Folgaram os jesuitas de ver assim abrir-se-lhe um novo campo á sua

febril actividade. Havia alli uma raça intacta, cera virgem que elles podiam moldar á vontade, sem terem que apagar os vestigios n'ella deixados por anteriores idéas religiosas ou sociaes. Era importante e gloriosa a missão, tão importante e gloriosa que o proprio Rodrigues d'Azevedo quiz pôr-se à testa d'ella. Obstaram a isso as ordens do geral, que precisava d'elle na metropole. Foi pois com profundo desgosto que o companheiro d'Ignacio de Loyola cedeu os riscos e a gloria da pacifica expedição ao padre Nobrega, um dos mais intelligentes e fervorosos entre os membros portuguezes da companhia de Jesus.

O padre Nobrega era na realidade um vulto eminente. A politica da Companhia deu-lhe um papel nobilissimo a desempenhar, o de protector dos Indios contra a ferocidade dos colonisadores. A politica da sociedade era tão profunda que até fazia o bem, quando o bem lhe era necessario. Não calumnio os jesuitas. Pensem os leitores que os heroicos missionarios da India, do Japão, e da America, foram contemporaneos e collegas dos que armavam com o punhal regicida a mão de Ravaillac; felizmente a actividade e a energia do padre Nobrega, que na Europa arredariam friamente os obstaculos que se oppozessem ao caminhar do jesuitismo, e derrubariam os reis dos thronos, se necessario fosse, serviram no Brazil para lançar as bases do glorioso e benefico imperio que essa estranha sociedade por tanto tempo exerceu nas terras americanas.

Postos estes indispensaveis preliminares, entro no

assumpto d'este romance; passa-se pouco depois da fundação de S. Salvador da Bahia, e quando os missionarios principiavam, com a sua energia costumada, a obra que lhes fôra ordenado emprehender. Procurei prestar justiça ao merecimento d'esses homens que tanto odio inspiraram, desejando ao mesmo tempo fazer com que o leitor não perdesse de vista a indole da sociedade, e a frieza com que removia os mais ligeiros obstaculos, que tentassem oppôr-selhe. O romance é apenas um esboço. Obra de mais vulto não é para as minhas forças emprehendel-a, e só talvez poderia ser tentada pelo eximio escriptor que doou á litteratura portugueza e brazileira esse esplendido livro, que se intitula Calabar.

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Devia de ser profunda e sublime a impressão produzida no espirito dos Europeus pelo primeiro aspecto das florestas virgens, onde se conservavam ainda os vestigios da mão de Deus, que arrojara a uma altura descommunal essas vastas cupulas de verdura, que entrelaçara a ramaria nas cordas flexiveis e viçosas dos cipós, que entornara n'essa urna immaculada ondas e ondas de perfumes, que a enchera d'indescriptiveis harmonias, que abrira esses porticos gigantes, que assentára essas columnas vegetaes cuja fibra ainda não estalára aos golpes do machado.

Como não havemos de julgar o nosso seculo prosaico, se já nos não é dado sentir essas commoções grandiosas? Como não haviam de ser devotas essas gerações, se Deus as escolhera para lhes revelar as maravilhas mais portentosas da sua omnipotencia?

Era essa a impressão que sentiam por uma tarde do mez de novembro de 1550 dois homens que se internavam audazmente n'uma das florestas, que então cobriam o solo do Brazil. Apezar das difficuldades que a intrincada vegetação do matto a cada passo lhes apresentava, esses dois homens, cujas roupetas negras e largos chapéos indicavam a corporação religiosa a que pertenciam e que era a dos jesuitas, caminhavam com ousadia, parando apenas de vez em quando, para communicarem um ao outro em voz baixa, como se estivessem n'um templo, os sentimentos que tantas maravilhas desconhecidas despertavam no seu espirito.

Com effeito razão tinham para se arrebatarem. A phrase que um outro religioso soltára contemplando as margens d'um dos grandes rios da America meridional: «Que eloquente sermão não é esta terra ! » podiam elles proferil-a tambem perante a inexcedivel magnificencia d'essa floresta a qual, não sendo das mais espessas, permittia que os raios do sol, coando-se atravez da rede de folhagem, illuminassem e realçassem d'um modo indescriptivel o mundo vegetal, que fervilhava diante dos olhos dos dois padres. A brisa, meneando ao de leve a copa das palmeiras, dos jacarandás, das mimosas, das espinhosas jussaras, desprendia a cada instante nuvens perfumadas de flores, que se confundiam pelos ares, e vinham bordar o tapete verdejante do solo com os seus variegados matizes. A pimenta, a baunilha enroscavam-se em fragrantes espiraes á roda dos troncos gigantes, que, todos vestidos de flores diversamente colori

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