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DISSERTAÇÃO

ACERCA DO SYSTEMA DE ESCREVER A HISTORIA ANTIGA E MODERNA DJ IMPERIO DO BRASIL.

(Pelo marechal Raymundo José da Cunha Mattos. )

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§ 1. Havendo eu em o dia 15 do mez de Dezembro do anno proximo passado feito a leitura de uma breve dissertação perante o Instituto Historico e Geographico Brasileiro, respondendo ao progamma apresentado pelo nosso secretario perpetuo o Illm. Rvm. Sr. conego Januario da Cunha Barbosa, concebido em os termos: Quaes são as verdadeiras épochas da Historia do Brasil; --- tendo prestado a maior attenção tanto ás notas offerecidas in scriptis pelos illustres socios os Srs. José Silvestre Rebello, José Lino de Moura como aos brilhantes discursos do mencionado Sr. Cunha Barbosa, e dos Srs. Pedro de Alcantara Bellegarde, Lino Antonio Rebello, Emilio Joaquim da Silva Maia, José Marcelino da Rocha Cabral, e ultimamente ao do Ex:. Sr. visconde de S. Leopoldo, presidente do Instituto; cumpre que em desempenho dos deveres que me propuz de concorrer para a melhor elucidação da historia d'este imperio, eu escreva mais algumas palavras e offereça ma ́s alguns argumentos que corroborem as opiniões já emittidas, e apresentem o systema que eu tenho seguido até hoje e pretendo seguir d'aqui em diante em todos os meus trabalhos historicos e geographicos do Brasil, e de differentes outras regiões do universo.

S. Não podendo eu ser juiz do merecimento das minhas obras litterarias; havendo talvez tomado o peior caminho em a disposição e narração dos acontecimentos de que me occupei;

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e achando me provalmente deslumbrado por algum amor proprio que me apresente como bom aquillo mesmo que outras pessoas desprevenidas, sem paixões, e muito a sangue frio reconheçam absolutamente máo; continuarei a sustentar que por ora não convém, nem é possivel escrever de um só jacto a historia geral do imperio do Brasil, que seja digna d'elle e faça honra aos membros d'este Instituto, que de tal tarefa houverem de ser encarregados. Pela parte que me toca declaro francamente que se a sorte ou a votação por escrutinio recahir em mim para trabalhar in solidum ou como collaborador em uma empresa tão gigantesca, eu me ostentarei inhabilitado, e recusarei aceitar essa honrosa commissão, para não ter de representar un papel desagradavel e muito em desabono do Instituto Historico.

§3.o O Sr. Bellegarde quando fez o seu ultimo discurso em a sessão do dia 15, sustentou que se deve escrever por épochas distinctas a historia philosophica do imperio do Brasil; e consecutivamente apontou algumas d'essas eras, ou periodos que lhe pareceran mais proprias para a organisação, e arranjo de toda a obra: outros senhores discorreram em o mesmo sen'ido, indicando todavia maior ou menor numero de épochas; e ultimamente o Exm. Sr. visconde de S. Leopoldo, ferindo com mão de mestre o complexo dos argumentos, mostrou, e parece-me que mui bem, que por ora não estamos habilitados a escrever a historia geral do imperio do Brasil, por nos faltarem muitos elementos provinciaes para isso necessarios. Felizmente o Exm. Sr. visconde faz honra á minha opinião, quando quer que indaguemos em primeiro lugar a historia particular ou das provincias, para com bons materiaes escrevermos a historia geral do imperio brasileiro.

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$4. Como será possivel escrever uma historia philosophica do povo do Brasil antes de levar ao cadinho da censura mais severa o immenso fardel de escriptos inexactos, insulsos, in

digestos, absurdos e fabulosos anteriores ao anno de 1822 en que unicamente se imprimia em Portugal, e rarissimas vezes no Brasil, aquillo que um governo desconfiado, uma inquisição intolerante, um Ordinario sem criterio, uma mesa da commissão sobre a censura dos livros permittiam que fosse publicado? Como será possivel escrever a historia philosophica do Brasil tomando por pharól os livros estrangeiros impressos antes da declaração da independencia do imperio? 0 que vemos ácerca da historia em quasi todos os escriptores estrangeiros? Aquillo que escreveram os portuguezes, e os brasileiros; e demais a mais muitas invectivas, insultos, calumnias, improperios, falsidades em desabono do povo do Brasil! O melhor de todos aquelles escriptores, o sabio' Southey, a todo o instante nos lança em rosto a nossa incapacidade; e fere-nos em a parte mais sensivel das nossas opiniões, atacando sem rebuço a crença religiosa, em que vivemos qualificando-nos de idolatras, fanaticos, supersticiosos e de perpetradores de toda a especie de maldade, por acreditarmos, que a confissão e absolvição, purifica-nos perante Deus e os homens! Quantas reflexões poderemos nós fazer a respeito da crença e da moral d'esses estrangeiros que não tem a confissão nem absolvição supersticiosa dos brasileiros, e apesar d'isso commettem crimes de natureza tão atroz como os que se praticam em todos os lugares do universo! Eu entendo. que seria uma trefa mui interessante d'este Instituto o encarregar a alguns dos seus membros, o exame, e a censura de todos os livros impressos ácerca da historia do Brasil tanto nacionaes como estrangeiros, começando pela carta que Pedro Alvares Cabral remetteu ao rei D. Manoel pelo capitão Gaspar de Lemo, se felizmente chegar a descobrir-se esse monumento precioso e assim mais entrar na averiguação das circumstancias apontadas na carta de Pedro Vaz de Caminha dirigida ao sobredito monarcha em o dia 1.° de Maio de 1500,

a qual não se acha confórme as noticias de outros historiadores, que por differentes canaes recebiam avisos dos successos da armada de Cabral, ou seriam d'ellas informados quando este capitão-mór se recolheu a Portugal. Outros documentos estão pedindo o escalpello da boa critica, e são as celebradas cartas de Americo Vespucio cuja authenticidade é atacada e defendida por escriptores mui modernos,

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S5. Permitta-se-me que eu apresente algumas reflexões ácerca de varios escriptos de nacionaes, e estrangeiros sobre as cousas do Brasil. Os estrangeiros distinguiram-se acima dos portuguezes e dos brasileiros no que respeita ás sciencias naturaes; e com effeito além de Marcgraff o hollandez Guilherme Pizon escreveu em latim a sua Historia Natural do Brasil impressa em Leyde no anno de 1648 sob os auspicios do conde Mauricio de Nassau; mas antes d'elle os jesuitas tinham dado varias noticias que foram por Pizon aproveitadas. O barão de Eschwege, Mawe, Neuwied, Pohl, Natherer, Langsdorff, Spix e Martius, Varnhagen, St. Hilaire, Freircip, e alguns outros publicaram viagens interessantes como naturalistas, mas deve confessar-se que elles foram precedidos por frei Antonio do Rosario, frei José Mariano da Conceição Velloso, Bernardino Antonio Gomes, Joaquim José Lisboa, frei José da Costa e Azevedo, frei Leandro do Sacramento, Manoel Ferreira da Camara Bittencourt, padre João Daniel, frei José de Santa Rita Durão, João da Silva Feijó, padre Diogo Soares, Dr. Arruda e muitos outros brasileiros e portuguezes; nem é justo lançar em rosto aos habitantes do Brasil o não terem publicado as relações das suas viagens scientificas antes do anno de 1803, sabendo-se que o governo apenas concedia subsidios mui escassos aos naturalistas nacionaes, e que antes da abertura dos portos aos estrangeiros. de proposito se punham obstaculos ás explorações e ás noticias mais circumstanciadas das provincias internas, por temor de alguma ten

tativa de conquista cujos resultados fossem mais duradouros de que a de Duguay-Trouin. A prova d'isto é a prohibição que houve de correr o pequeno livro intitulado Cultura e Opulencia do Brasil, composto por André João Antonil, ha pouco tempo reimpresso n'esta côrte do Rio de Janeiro á vista de uma copia manuscripta que a muito custo o Sr. José Silvestre Rebello pôde alcançar. Os naturalistas estrangeiros de maior candura confessam, haverem-se aproveitado dos escriptos de muitos sabios nacionaes.

S6° Pelo que respeita á historia, são alguns estrangeiros mui injustos e mui severos contra os brasileiros e os portuguezes; pois é facto reconhecido, que em consequencia da calamitosa sujeição da corôa de Portugal á de Castella, e pela systematica diligencia dos reis Filippes foram suffocadas as sciencias e as artes em Fortugal, para d'este modo haverem um maior numero de braços de homens ignorantes, mas valentes que defendessem os interesses castelhanos nas fronteiras da França, na Italia, e sobretudo nos l'aizes Baixos contra os hollandezes revoltados. A politica atroz de Filippe II, unida á da inquisição, fez precipitar na furna da Torre de S. Julião da Barra de Lisboa dois mil ecclesiasticos e seculares das mais imminentes qualidades para servirem de pasto aos peixes, e deixarem assim desassombrados um monarcha tyranno e supersticioso, e os seus ministros inimigos jurados de Portugal. A mortandade de tão grande numero de homens sabios foi causa do desapparecimento de obras mui preciosas dignas emulas dos escriptos. por Osorio, Couto, Barros, Góes, Galvão, Castanheda, e outros que honravam a litteratura portugueza: e dos poucos que escaparam á geral catastrophe da monarchia, merecem attenção a respeito do Brasil as dos seis escriptores agora citados; a de Pedro de Magalhães Gandavo, Francisco da Cunha, e poucos outros: tudo o mais que temos escripto é do principio do seculo dezesete em diante, e então começou a apparecer

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