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hespanhoes, e que cada casal se repartisse em casas onde vivesse cada familia separada das outras, tendo sido o padre Roque o auctor da planta porque foram edificados todos os povos jesuiticos. Com grande empenho trabalhou na construcção da nova igreja que tinha ideado: Foi-lhe preciso cortar nos matos para este fim mais de setecentos esteios de mais de quarenta pés de comprido, e de dois de largura, preparal-os no mesmo lugar, fazel-os conduzir ao povo distante mais de uma legua, fazendo-os arrastar pelos bois, sem outro mestre que o padre Roque. Este sem mais conhecimentos que os que lhe inspiravam seu zelo, era mestre carpinteiro architecto e elle mesmo serviu de pedreiro para fazer as paredes, o que motivou a seguinte carta que seu companheiro naturalmente alegre o padre Francisco do Valle escreveu ao padre provincial. «O padre Roque em sua caridade é superior a tudo; agora está feito um Salomão, não pensando senão em sua igreja : é um rei de Tyro, cortando sua madeira, e conduzindo-a com summo trabalho, mas não pára n'isso, porque elle em pessoa é o factotum, e exerce todos os officios até o de carreteiro, juntando os bois. «Mas nem por isso se descuidava de ensinar aos indios a plantar algodão e cultival-o, etc. >>

O novo povo continha nove quadros, e cada quadro seis casas de cento e vinte pés; depois augmentou-se muito mais. Ficou este povo de Santo Ignacio tão vistoso que por sua ordcm, symetria, boa disposição e vista agradavel fez a admiração de toda a comarca. Muitos indios foram pela curiosidade ahi attrahidos, o que foi occasião, a que não poucos dos curiosos ficassem invejosos das commodidades temporaes dos moradores de Santo Ignacio, e se determinassem a seguil-a, pedindo ser alistados no numero dos catechu

menos.

Gozou então de mais tranquillidade o povo de Santo Ignacio. O padre Roque occupando-se a fazer differentes traducções que eram mui procuradas por ser elle mui perfeito no idioma guarani, e ter boa letra, nutria grandes desejos de attrahir ao christianismo as gentes circumvizinhas, para as quaes se devia abrir as portas do Evangelho nas dilatadas provincias do Uruguay, cujos barbaros tinham sempre opposto uma resistencia valorosa ás armas catholicas. Tinha Deus reservado esta conquista para a Cruz, pois no anno seguinte 1614, o santo padre Roque Gonçalves da Cruz, mereceu que se lhe facilitassem os meios que anhelava seu zelo, para entrar a allumiar com a luz da fé, aos moradores das costas, ilhas ou matos do Pa

raná. Para abi seguiu no dito anno; e a virtude poderosa da Cruz, domou suavemente as cervises d'estes barbaros. Assim se abriu transito para os barbaros do Uruguay, onde primeiro fez ouvir a prégação evangelica, e onde Deus The tinha preparado uma illustrissima coroa. Vide o art. 8° d'este cap.

Em Santo Ignacio, no anno 1612, baptizou o padre Roque, 120 adultos; 60 no dia da Assumpção, e 60 no dia de Natal. Achava-se então interinamente na Assumpção o padre Lorenzana, a cujos sacrificios e trabalhos deveu este povo e outros uma grande parte do seu adiantamente.

O reverendo frei Luiz Bolaños, franciscano descalço com dois companheiros da sua religião, tinham precedido aos jesuitas nas missões do Paraná e tinham a seu cargo as reducções de Itú, Caazapa e Yuti que já existiam quando foi fundado Santo Ignacio-guaçu, pelo padre Lorenzana. Frei Luiz Bolaños era graude mestre na lingua guaraní, e era mui amigo dos jesuitas, assim como o licenciado Hernando de la Cuera, cura de Jaguaron, que veio acompanhar ao padre Marcello em Santo Ignacio. Frei Gregorio de Ossuna, varão apostolico da religião seraphica, succedeu ao padre Bolaños nas mesmas missões, nas quaes trabalhou mais de quarenta annos desde 1600.

Nota 1.-Os missionarios jesuitas desejavam o martyrio assim o padre Martinho de Urtasum que morreu em Loreto a 2 de Fevereiro de 1614, se queixava de morrer naturalmente em sua cama, e fazia ler o martyrio do veneravel padre Ignacio de Azevedo, e de seus trinta e nove companheiros, que vindo prégar o Evangelho ao Brasil foram mortos no mar por odio da fé. O padre Urtasum só tinha 26 annos, e era parente de S. Francisco Xavier.

Nota 2.a O padre Antonio Ruiz de Montoya achando-se em Loreto, traçou as plantas das igrejas de Loreto e de Santo Ignacio-miri, e por falta de mestres, que os guayrenos lhe arrebataram. ensinou aos indios estes serviços.

O mesmo padre plantou ahi vinhas n'um lugar por elle preparado, e em dois annos fez vinho que servia para missa e para os doentes.

(23) A Divina Providencia costuma para as acções grandes prevenir as attenções do mundo com secretas noticias, que antecipadamente participa aos prophetas seus servidores. A conversão á fé christa da dilatada e numerosa nação guaraní, conseguida á custa

de immensos trabalhos, suores e fadigas pelo zelo principalmente dos jesuitas, foi annunciada muitos seculos antes a esta nação pela boca de um amado propheta e apostolo do Senhor. Dezeseis seculos antes de effectuar-se a conversão á fé da nação guarani, Deus a fez annunciar ao mundo pelo orgão do apostolo S. Thomé, com maravilhosas circumstancias que unicamente póde saber e descobrir aquelle Senhor, que em sua infinita sabedoria comprehende como presente toda a serie de successos futuros. que litteralmente se cumpriram no tempo de que fallamos.

A vinda do apostolo S. Thomé á estas partes da America, e principalmente ao Brasil e ás regiões do Paraguay, está baseada em taes fundamentos, que d'ella não se póde duvidar. Faltam monumentos antigos que testifiquem a vínda de S. Thomé, e que por tanto a tornem perfeitamente certa, mas é innegavel que a tradição constante e uniforme de diversas nações do novo mundo, os signaes e vestigios, e o nome de S. Thomé conhecido desde tempo immemorial por ellas, fazem probabillissima sua vinda a estas regiões. Muitos auctores, e entre elles o padre Pedro Lozano, trataram diffusamente d'este ponto. Desde que chegaram os jesuitas ás provincias de Guayrá, Parana-pané e Tibaxiva, ouviram os gentios fallar de S. Thomé, ao qual davam o nome de pai Zumé, e d'elle narravam cousas prodigiosas, e o tinham em conta de varão maravilhoso, cuja memoria o tempo no decurso de tantos seculos não poude fazer esquecer. Eis o que em 1613 o padre José Cataldino escrevia a este respeito ao provincial padre Diogo de Torres. «Muitas cousas me tinham dito desde o principio estes indios, acerca do glorioso apostolo S. Thomé, que elles chamam pay Zumé, e não as tenho escriptas antes, para melhor me certificar e averiguar a verdade. Dizem pois os indios anciãos, e os caciques principaes, que tem por certissimo, por tradição derivada de pais a filhos que o glorioso S. Thomé apostolo veio à suas terras do lado do mar do Brasil, e que atravessando o rio de Tibaxiva (onde elles e seus antepassados moravam) então povoadissimo de indios, foi passando por seus campos ao rio Haybay, e que d'ahi foi ao rio Piquiri, d'onde não sabem aonde foi. Nas cabeceiras d'este rio, dizem os indios, se acham as pisadas do glorioso santo impressas em uma penha, e o caminho pelo qual atravessou estes campos está ainda aberto, sem se ter nunca fechado, nem ter crescido nunca a herva, apesar de estar no meio do campo onde não trilham os indios, e asseguram que as penhas por onde vem este caminho estão

abertas, deixando no meio um caminho igual ao mesmo chão, e affirmam terem-o elles mesmos visto. >>

Conservam por tradição, que o glorioso S. Thomé, revelou a seus antepassados muitas cousas futuras, e entre ellas as seguintes: que haviam de penetrar sacerdotes em suas terras, e que alguns entrariam unicamente de passagem para retirarem-se logo; mas que outros sacerdotes, que entrariam com cruses nas mãos, estes sim seriam verdadeiros padres, estariam sempre com elles e lhes ensinariam como haviam de se salvar e servir a Deus; que estes padres lhes viriam descendo pelo rio Paraná-panè, onde fariam duas grandes povoações uma na boca do Pirapó e a outra em Itamaracá, nomeando-as por seus nomes, que é precisamente o que tem acontecido. E, é para notar que então não havia indios nenhuns pelos referidos lugares, nem em todo este rio. Disse-lhes tambem que entrando os ditos sacerdotes em suas terras, elles haviam de se amar muito entre si; e que cessariam as guerras que de continuo tinham uns com outros; que então cada um teria uma só mulher, com a qual os padres os casariam, e que o assento dos padres seria principalmente no Pirapó, o que em Tibaxiva não ficariam mais povos. Preveniu-os tambem de que os ditos padres não haviam de ter mulheres indias em suas casas para os servirem, que trariam sinos, que usariam de todas as comidas que elles têem, mas que não beberiam dos seus vinhos; que os indios de Maracayù viriam a esses povos, e que elles teriam por capitão a um hespanhol, e outras particularidades, de que me admirei muito quando as ouvi, às quaes eu não teria dado credito, ou pelo menos teria tido muita suspeito que era leviandade d'estes indios, se elles não me narrassem isso, muito tempo antes que acontecesse, tendo-o por tradição tão antiga dos seus antepassados. Perguntando-lhes como sabiam isso? Responderam-me os indios que seus avós lhes tinham contado, e que perguntando elles a seus avós a origem d'onde sahia esta narração, lhes respondiam o mesmo que seus pais lhes tinham contado; por onde parece que não póde haver duvida da verdade, sendo uma tradição tão fundada e assentada, de que tem sempre feito grande estimação, e agora elles estão mui satisfeitos por verem realizado o que seus pais e avós lhes disseram.

Quando esta relação se escreveu, sómente faltava a despovoação de Tibaxiva para cumprir exactamente a prophecia, e esta despovoação não tardou a se verificar, tendo-se alguns d'estes indios ag

gregado ás reducções de Loreto e de S. Ignacio-miri, outros foram evados prisioneiros pelos paulistas e tupys, e os que ficaram, de 1 medo de serem aprisionados abandonaram as margens do rio e se refugiaram nos matos.

As predicções de S. Thomé, não foram unicamente encontradas entre as gentes de Tibaxiva, mas tambem em comarcas mais remotas, onde produziram o mesmo effeito de facilitar a conversão dos inficis por meio dos jesuitas. Foram testemunhas d'esta verdade os padres Antonio Rodrigues de Montoya, e Christovão de Mendonça, que penetrando armados de cruz, como insignias do seu ministerio na provincia de Tayati, terra aspera, e montuosa no ano de 1624, foram recebidos dos infieis com extraordinarias demonstrações de alegria, com danças, musica e cantos usados n'aquelle paiz; sahindo-lhes ao encontro as mesmas indias carregando seus filhinhos alegres e festivas, signal de paz, e regalando-os com suas comidas de raizes e fructas silvestres, o que nunca assim lhes tinha succedido. Admirando-se os padres d'esta recepção. os indios satisfizeram sua curiosidade, dizendo-lhes, que não tinham que admirar-se, porque quando muitos annos ante passou por aquelle paiz o pay Zumé ensinando a doutrina a seus antepassados, entre outras cousas lhes disse: « Sabei que com o tempo haveis de esquecer esta doutrina, que vos ensino; mas depois de passar muito tempo, virão sacerdotes successores meus, que trarão como eu trago cruzes nas mãos, dos quaes voSSOS successores ouvirão a mesma lei que vos prégo. » Ora, padres reconhecendo em vós o signal que nos deixou pay Zumé, cremos que sois os sacerdotes que elle nos disse que são os mestres da doutrina; por isso nos alegramos com vossa vinda e para a festejar, fizemos estas demonstrações extraordinarias. Gostosos ouviram estes indios a palavra de Deus, e com elles os padres fundaram o povo da Encarnação, e depois out as na mesma provincia e sem experimentar contradicção; por que a persuação em que estavam os indios de que nos missionarios jesuitas se cumpria a prophecia de S. Thomé, fazia desapparecer todas as difficuldades.

Na verdade, diz o padre Lozano em sua historia, não admitte duvida ter prégado o apostolo S. Thomé por todas estas partes, se gundo as noticias que se encontraram em todo o Brasil e no l'a raguay, sendo constante esta tradição desde Guayrá até o grande rio Liaranhão. Refere o mesmo auctor um caso inserto n'uma relação manuscripta do padre Antonio Rodrigues de Montoya, que com

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