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Francezes, Italianos, Hespanhoes, e Portuguezes, a Lentilha d'agua, botanicamente chamada Lemna, e contemplada com o seu nome vulgar na Flora Lusitanica de Brotero.

A Lentilha d'agua e o Sargaço atlantico tem a relação estreitissima de serem hervas sobreaguadas, totalmente desapegadas de apoio, e sempre paradas no mesmo lugar.

E tanto fere os olhos esta materialidade, que levou os Hollandezes a darem ao Mar de Sargaço o nome de Mar de Lentilha, Kroost-Zee, segundo o relatado positivo testemunho de Guilherme Piso; onde cumpre ponderar que Kroost é em hollandez nome privativo da Lentilha d'agua, porque naquelle idioma a lentilha legume chama-se Linz.

Agora sim, podemos descançar.

Por mais que outra qualquer se ostente formosa, esta é que é a etymologia de Antilia, trajada modestamente, mas com as vestes da Verdade.

No mesmo departamento francez do Norte, em muitas partes do qual se dá á lentilha o nome de Antile, está o antiquissimo porto de Dunkerque, cujos mareantes foram tão afamados na idade media por sua pericia e afouteza.

Elles descobriram o Sargaço atlantico; e por aquella parecença que lhe acharam com a lentilha d'agua, fizeram como ulteriormente os Portuguezes, de quem diz Barros, que « sem ser çargaço por a semelhança que tem com elle lhe deram

<< o seu nome. >>

Chamaram-lhe no seu dialecto Antile; e da falta de conhecimento da significação desta palavra resultou entre os Italianos de então Antilia, entre os Hespanhoes e Portuguezes Antilla e Antilha, e no geral dos Francezes Antille.

Os Hollandezes porém, que pela vizinhança bem sabiam o que significava Antile, conservaram intrinsecamente ao Mar de Sargaço o nome que lhe puzeram os seus descobridores.

E o Francez Le Testu, domiciliado não longe de Dunkerque,

tambem se mostrou inteirado da significação de Antile, quando, acompanhando a transferencia do nome primordial do Mar de Sargaço para as ilhas colombianas, empregou na expressão mer de lentille, em vez de Mer des Antilles, a genuina fórma franceza correspondente á corrupção do dialecto Rouchí.

Antile é com effeito naquelle dialecto uma palavra inteiriça, alteração normal do francez Lentille: porque, quanto á suppressão da consoante inicial, dizem nelle étanies, yard, Iopol, em vez do francez puro litanies, liard, Léopold, como tambem ante, etarder, isorée, em lugar de tante, retarder, mijaurée; quanto á troca do e em a, dizem frane, argot, garbée, em lugar de frêne, ergot, gerbée, e bem assim lant do latim lentus no sentido de humido; e quanto ao som de simples pelo nosso lh, dizem file, quévile, fauchile, em vez de fille, cheville, faucille, como tambem pale, viéle, akeulir, em vez de paille, vieille, accueillir.

Desconjuntar Antilha, á maneira de charada, em dois comezinhos elementos portuguezes, como Bluteau, os lexicographos de Trevoux, Murr, Pinkerton, Ribeiro dos Santos, Trigozo, e até alguma vez Humboldt: é cahir na equivocação do historiador da Asia com o cabo Bojador, que elle assevera terem assim alcunhado os descobridores do infante D. Henrique pelo seu muito bojar, sendo que já em 1405 pessoalmente o conhecia o Francez Bethencourt com o nome de cabo de Bugeder, e já em 1375 o appellidava cabo de Buyetder o atlas catalão da bibliotheca imperial de Paris.

E como teria razão a escola de Bluteau?

Ouçamos a João de Barros, contando o apparecimento da terra de Santa Cruz: « A qual terra, estáuam os hómees tam «< crentes em nã auer algua firme occidental a toda a cósta « de Africa, que os mais dos pilotos se afirmáuă ser algua «grande jlha, assy como as terceiras, e as que se acháram

"

por Christouão Colom que era de Castélla: a que os castelhanos comumente chamă Antilhas. >>

Se dos Castelhanos receberam os Portuguezes o nome Antilha; e se na lingua castelhana se não diz ilha, mas isla: claro está que semelhante nome nem he portuguez, nem castelhano, e não se resolve em Ante-ilha.

Fica pois averiguado que a mysteriosa Antilia, longe de ser, como julga Humboldt. um mytho geographico, era o mui positivo Mar de Sargaço, cuja circumscripção, traçada pelo primeiro que o assentou em mappa, deu azo a tomarem-no por uma ilha.

Prova-o concludentemente o atlas composto em 1436 por Andrea Bianco, onde, no proprio lugar em que a folha 5." dicera Ilha d'antillia, diz com emphase a folha 9.a é mar de baga, que vem a ser mar de sargaço, porque o caracter especifico desta planta são as suas boiasinhas, a que todos chamam bagas.

E lucidamente o assella uma lhana etymologia, revelada em 1658 por Guilherme Piso: porque o douto Hollandez informa que ao Mar de Sargaço nomeam os seus compatriotas Mar de Lentilha, do diccionario Rouchí nos consta que naquelle dialecto francez o nome de lentilha é Antile.

Outra cousa agora.

Visto que o Mar de Sargaço foi arrumado em mappas antes, e muito antes do descobrimento colombiano, é indubitavel que até alli tinham batido o Atlantico os antecessores de Colombo.

Logo, aquelle hervaçal perenne, que principia cem leguas ao poente dos Açores, era a raia verdadeira do Antigo Mundo e do Mundo Novo: dalli, e não da ilha de Ferro, é que o varão impavido foi cortando «< por mares nunca d'antes navegados »; alli é que se lhe oppunham os realmente vedados

terminos, que elle se ufana de haver quebrantado, quando, na sublime carta de Jamaica, introduz a apostrophal-o em sonhos um messageiro de Deos, que lhe diz: « De los atamientos de la mar océana, que estaban cerrados con cadenas tan fuestes, te dió las llaves. »

Por isso, mal tornava do Novo Mundo, em continente diligenciou Colombo a ephemera mas sempre fallada linha divisoria estatuida pela Santa Sé a 4 de Maio de 1493.

Conjectura Humboldt o muito que era de crer que o enthusiasmado descobridor se empenhasse em inculcar para demarcação politica uma demarcação physica que tanto o impressionara. (T. III. pp. 52-55.)

E bem o conjectura: pois effectivamente, em carta datada de Barcelona quatro mezes depois do acto pontificio, e publicada por Navarrete no documento LXXI do tomo segundo, escrevem a Colombo os Reis Catholicos «< fasta la raya que vos dijistes que debia venir en la Bula del Papa. »>

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E

que espectaculo grandioso se manifestava alli!

Em um notavel artigo de Zig-zag da secção geologica da commissão scientifica do Norte, no Diario do Rio de Janeiro de 3 de março de 1862, diz um Brazileiro benemerito, o nosso illustradissimo consocio ilherme de Capanema. « Em todo omar de sargasso nã se acha uma unica plan'a com semente, o que provém de que elle só fructifica agarra lo á pedra; e por isso o grande mestre Humboldt, e o nosso Mar« tius, estabeleceram hypotheses sobre a sua proveniencia, « que mais tarde Martens destruio. Elle, com perspicacia de naturalista, deu em examinar os animaes parazitas do sar« gasso, e achou algumas especies inteiramente estranhas ao «oceano atlantico, porém mui frequentes nas aguas da India « e do Mar Persico, de onde elle possuia exemplares do mes« mo sargasso fructificado. A' vista disso é quasi certo que " a corrente pelagica que vem dos mares da India, desce pelas

<< costas de Moçambique, e dobra o cabo da Boa Esperança << para tomar novo rumo em busca das regiões equatoria, traz a o sargasso, que de viagem perde a sua semente, e atira com << elle aos enormes bancos. >>

Logo, no meridiano por onde anhelava Colombo corressem os politicos a repartição do Mundo, estavam patentes as suas quatro partes: diante dos olhos, Europa, Africa, America; e representada pelo seu sargaço a remotissima Asia, — a Asia, que o heroico Italiano com tanta fé procurava, que elle se desvaneceu de ter achado sem achal-a nunca, e de que só viu, sem saber o que via, aquella interessante amostra.

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