tanto áquelles piratas que não se tem atrevido desde então a chegar á vista das reducções, aprisionando unicamente os indios que encontram pelos campos, e que não podem ser soccorridos pelas milicias dos povos. Para resguardar-se d'elles, os jesuitas estabeleceram corpos de guarda pela serra do Herval na margem oriental do Uruguay e sobre as costas do grande mato de pinhaes araucarias, que cobre uma parte da serra limitrophe ás provincias de Santa Catharina e do Paraná, chamado até hoje Mato Castelhano, que dava passo ás tribus barbaras e aos paulistas. As milicias dos padres coadjuvaram muito ao governo do Paraguay quando em 1676, os paulistas principiaram de novo suas excursões na dita provincia, e foi á afouteza, á audacia de tres mil indios dos jesuitas que Dom José de Garro, governador de Buenos-Ayres deveu a tomada da colonia do Sacramento aos portuguezes em 6 de Agosto de 1680, cujo brilhante feito de armas estabeleceu em toda a America Meridional a sua reputação de guerreiros. Os jesuitas a vista dos perigos não se descuidaram em aperfeiçoar a organização militar das suas reducções, para o que inandaram vir do Chile alguns padres que tinham sido militares e que redigiram varias ordenanças, tres das quaes eram : 240.-Faça-se em todos os povos quanta polvora se poder. P. Zea. 241.-Nos casos de guerra haverá quatro superintendentes designados pelo padre provincial; um, Uruguay acima; outro em Japejú, outro na banda oriental do Uruguay, e outro no Paraná; e cada um terá seus dois consultores para os casos de guerra. 242.-Os povos da outra banda do Uruguay farão por sua parte a vigia dos pinhaes nos tempos costumados e se lhes designaráò paragens para deixar seus signaes. P. Ignacio Frias. P. José de Aguirre. Citam os padres jesuitas Matheus Sanches e Alfaro como tendo desenvolvido um valor notavel: Aquelle contra os charruas que, segundo narra o Diccionario Historico e Topographico do Brasil, queria exterminar sem motivo plausivel, por não quererem elles fazer parte das commendas; este em 1653 contra os paulistas commandados pelo mestre de campo Manoel de Campos Bicudo. Emfim, em 1750 quando a Hespanha cedeu á Portugal as missões orientaes do Uruguay em troca da colonia do Sacramento, e que a povoação india se levantou para se oppôr á execução de um tratado que os obrigava a expatriar-se de um territorio que tinham, diziam elles, recebido de Deos e de seus padres, outros jesuitas se puzeram attesta das milicias missioneiras para se oppôrem aos hespanhóes e portuguezes que assignalavam os limites das terras pertencentes ás duas corôas. Mas apesar das proesas dos cabos de guerra indios Sepé ou José Tiarayú e Nicolau Languirú (que se diz que os jesuitas denominaram Nicolau I rei do Paraguay) uma grande porção das milicias missioneiras pereceram n'essa guerra, e os indios que recusaram submetter-se tiveram que expatriar-se até 1761 em que foi annulla o o tratado de limites. Por ter tratado por extenso d'este assumpto o nobre visconde de S. Leopoldo nos seus Annaes da Provincia de S. Pedro, nada mais digo a este respeito, até que trate da historia particular do povo de S. Miguel. CAPITULO XIII. DESCRIPÇÃO GERAL E RESUMIDA DOS POVOS JESUITICOS. Todos os povos jesuiticos da provincia eram semelhantes e traçados pelo mesmo modelo, com pequenas differenças; ver um d'elles era ver todos, portanto descrever a um d'elles é descrever todos. Os povos são situados sobre alegres col linas adornadas de uma esplendida vegetação, e das quaes correm alguns arroios ou mananciaes de aguas crystallinas, e em seus declives existem varias chacaras e campos cultivados. Ao ver de longe estes grandes telhados de telhas vermelhas que a igreja domina mas sem ter torres, se diria que é um d'esses castellos antigos que o feudalismo tinha levantado para assegurar sua independencia e despotismo nas provincias agricolas de França, mas que a luz do seculo tem transformado hoje em immensas fazendas de productos agricolas e industriaes, se as palmas, as larangeiras que se avistam em toda a parte não fizessem lembrar outro paiz, outro clima. Entra-se em uma espaçosa praça quadrilatera, de que com frente ao Norte, o collegio, a igreja e o cemiterio fazem o costado mais predominante. As outras tres faces da praça na qual desembocam ora cinco, ora nove ruas, são formadas de galerias symetricamente repartidas de vinte a vinte quatro braças de comprido e quatro a cinco de largo com varandas de ambos os lados. Pelo alinhamento das mesmas ruas, se formam outras quadras com a mesma planta e perspectiva, se o augmento da povoação o requer. Na fachada principal da praça e fazendo-lhe bem frente se encontra a igreja sempre magnifica de tres ou cinco naves, e todas com capacidade de conter muitas mil pessoas. São de architectura irregular e de pouca duração, por causa das muitas madeiras de que são feitas as numerosas columnas dobradas que sustentam o pesado telhado, e das linhas que se acham intercaladas no centro das paredes do edificio, que contém mesmo que sejam feitas inteiramente como em alguns povos de grossos pedruscos de grés sem cimento, mas em geral as paredes são feitas em parte com pedras lavradas e em parte com tijolos crús e branqueados de tabatinga. Entra-se na igreja pelo portico em fórma de |