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o que não podia ser contado por Bernardim; demais, o nome de Orphileno, da segunda parte, e Fileno, dito na primeira, mostram a variante de mão apocrypha. (1) N'esta edição de Evora falta a Ecloga do Crisfal, o que mostra que foi feita sobre outro manuscripto differente do de Ferrara, e como tal contituado na mão do seu possuidor.

A terceira edição foi feita tambem no estrangeiro, em Colonia em 1559, por Arnald Birckmann; traz esta nota importante: «Vende-se a presente obra em Lisboa, em casa de Francisco Graffeo; acabou-se de imprimir a 20 de Março de 1559 annos.» N'esta edição a segunda parte interrompe-se no capitulo XVII; d'aqui se conclue ter sido feita sobre outro manuscripto que chegava só até áquelle ponto, e portanto estava longe de conter os capitulos de XXXII a XL, que encerram a conclusão apocrypha da historia dos amores de Bimnarder e Aonia. É seguida da Ecloga e mais poesias de Christovam Falcão. (2)

Barbosa dava como primeira edição a de Lisboa, por Pedro Craesbeck de 1616, que é a quarta.

A quinta edição de Bernardim Ribeiro só se fez em 1645, por Manoel da Silva Mascarenhas, a titulo de ser parente do poeta; a demora d'esta publicação deve at

(1) Esta segunda parte só póde ser tratada na Historia das Novellas portuguezas de Cavalleria, que publicaremos.

(2) No fim das Eclogas traz uma Sextina, que começa: Hontem poz-se o sol á noite», que falta na de 1645, bem como umas Cantigas com suas voltas que dizem ser do mesmo auctor. Dicc. da Acad., p. LXX.

tribuir-se à condemnação do Index expurgatorio de 1581. (f. 21.) Foi feita sobre a edição de Evora, de 1557, mas profundamente mutilada pelo Santo Officio, e com a mudança do titulo em Saudades de Bernardim Ribeiro, imposto pela censura do Qualificador Frei Francisco de Paiva: «Vi este livro intitulado Saudades de Bernardim Ribeiro, não tem cousa alguma contra nossa santa fé ou bons costumes, na forma que vae emendado; posto que seja de portuguz antigo, he de portuguez muito avisado, como o mostra nos pensamentos, sentenças e enredos com que descreve suas saudades... Sou de parecer, que se lhe dê licença, que pede, para se tornar a imprimir, sob titulo de Saudades de Bernardim Ribeiro, riscando-lhe o outro que põe por cima de cada uma das folhas, que diz Menina e Moça, pelo qual foi já prohibido, como por algumas palavras que vão riscadas e não se devem imprimir.» O Doutor Guadalupe, fazendo um Soneto ao editor, dedicou-lh'o dizendo, que estas obras «estavam já quasi esquecidas.>

A sexta edição é uma reproducção servil da de 1645, feita em Lisboa na Officina de Domingos Gonçalves em 1785. Não merece estima.

A septima edição, foi feita em 1852 por uma empreza denominada Bibliotheca portugueza ou reproducção dos Livros classicos portuguezes. No prologo dos editores vem esta indicação bibliographica, descrevendo a difficuldade de encontrar a mais antiga edição citada por Barbosa: «Já desanimavamos da empreza, e haviamos principiado a reimpressão servindo

nos da edição de 1785, que o snr. José Maria da Costa e Silva nos dá como mais correcta que as precedentes, quando conseguimos haver á mão a primeira edição de 1557.» O poeta critico Costa e Silva tinha por unico criterio a superstição dos classicos; conhecia-os pelo papel pardo. A edição de 1852 saíu como um digno producto dos que o tomavam por auctoridade: o prologo é de uma estupidez capital emquanto ás ideias sobre a lingua portugueza, e sobre as origens da novella e dados biographicos de Bernardim Ribeiro; ommittiram as Sextinas e Cantigas, que trazem a rubrica «que dizem ser do mesmo auctor»; em compensação deram como de Bernardim Ribeiro a glosa ao romance de Durandarte, que começa: «Oh Belerma, oh Belerma», bem como um Soneto de Boscan, só pelo facto de andarem juntos a uma Ecloga avulsa.

Em vista d'estas provas, torna-se urgente uma edição critica e verdadeiramente litteraria d'este ignorado auctor. Recomposta a sua vida pela intelligencia do texto das suas obras, que até hoje nunca se havia feito, completemos o trabalho refutando a lenda anachronica dos seus amores com a infanta Dona Beatriz.

§ IV. FORMAÇÃO DA LENDA DOS AMORES DA INFANTA DONA BEATRIZ. - A coincidencia da partida do poeta com a da Infanta em 1521, produziu depois de 1581 este equivoco. — Faria e Sousa e os falsos documentos de Bernardim. — A lenda de Bernardim é ignorada no seculo xvIII. Disparates imaginosos de Costa e Silva, ácerca dos amores de Bernardim. Herculano tentou sustentar por suspeitas os amores com Dona Beatriz. Garrett dá vida a esta lenda com um drama impossivel. - Como se deve entender o documento produzido por Herculano. Theoria da interpretação de F. A. Varnhagem: considera a amante de Bernardim Ribeiro sendo Joanna a Douda, mulher de Philippe o Bello! Fraqueza de cerebro d'este escriptor-diplomata. · Conclusão ácerca da vida de Bernardim Ribeiro.

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A lenda dos amores da Infanta Dona Beatriz é um d'aquelles productos de phrases da ignorancia, da incapacidade para a critica, e da tendencia para reproduzir o logar commum e revestil-o com lantejoulas academicas. Uma cousa havia apenas de realidade para base d'esta lenda de Bernardim Ribeiro e de Beatriz; era ter o poeta amado uma parenta de el-rei D. Manoel. Quem fosse esta dama, se á primeira investigação se não descobrisse, nunca poderia ser a Infanta Dona Beatriz, que saíu de Portugal aos dezesete annos, quando o poeta já contava quarenta e seis annos de edade; demais, como sabemos por Spon, na Historia de Genova, (1) Beatriz era de tal fórma enfatuada da sua aristocracia, que para não ser insultada pelos burguezes em Genova, foi preciso declarar-lhes, que eram assim

(1) Tom. 1, p. 359.

os costumes em Portugal. Como é que uma dama com esta hombridade insuportavel poderia acceitar o amor de um simples poeta palaciano? Ainda que a lenda tivesse alguma probabilidade, conhecendo-se este caracter de Beatriz devia ser rejeitada in-limine por incongruente.

Mas quando a lenda chegou a ser recolhida no seculo XVII por Faria e Sousa, que a admittia com hesitação, déra-se n'este intervallo um phenomeno que provocou a sua formação: em primeiro logar a prohibição da Menina e Moça no Index de 1581, fez suspeitar que haveria alí escandalo palaciano; por outro lado coincidindo a saída de Bernardim Ribeiro de Portugal, com a da Infanta Dona Beatriz para Saboya, em 1521, facil foi explicar esta coincidencia por um amor mysterioso.

Faria e Sousa traz uma poesia fragmentada, a que elle pôz a seguinte rubrica: « Cancion que escrevió a su amada la Infanta Dona Beatriz em 1521.» D'estes versos quiz concluir, que Bernardim Ribeiro fôra o primeiro que introduziu em Portugal os metros endecasyllabos. Esses fragmentos de Canção não pertencem a Bernardim, antes são um producto das falsificações litterarias do seculo xvI. Aqui os transcrevemos, para que pelas suas referencias mythologicas se conheça a sua falsidade:

Porque foges, oh vida desdenhosa
De quem te segue e ama e te deseja?
Volve esse rosto a mim tão desejado,
Vê que o fugir mil males tem causado.

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