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«E porque em materias onde faltam authores vale muito a tradição vulgar e as cousas que antigos traziam entre si como authenticas e verdadeiras e as ensinavam os seus descendentes nos romances e cantares, (1) que então se costumavam, porei parte d'aquelle cantar velho que vi escripto em um Cancioneiro de mão, que foi de Dom Francisco Coutinho, Conde de Marialva, o qual veiu á mão de quem o estimava bem pouco e depois ouvi cantar na Beira a lavradores antigos, com alguma corrupção, e sem duvida foi posto em memoria d'este successo na fórma seguinte...». D'aqui se segue que Frei Bernardo de Brito apenas viu a versão manuscripta do canto, que apresenta na fórma como o cantavam na tradição oral da Beira. Além d'isso a referencia do canto ao facto que localisa em Figueiredo das Donas conhece-se que é hypothetica, por é hypothetica, por isso que diz sem duvida, para desfazer qualquer objecção. Frei Bernardo de Brito desculpava-se de intercalar este rude canto entre a sua narração, dizendo: «Servirá a velhice d'este verso antigo de alliviar o enfadamento da historia, que minha tenção não é trazel-o para maior credito, nem authoridade do que merece um cantar ordinario; supposto que os antigos não deixaram de ter sua probabilidade.» (2) Portanto na lenda do Figueiral pertence a Frei Bernardo de Brito: 1.o A localisação, aproveitando-se do nome Figueiredo das Donas, a tres legoas da

(1) Adiante veremos a que cantares e romances se referia Brito

(2) Monarch. Luz., Al. 296.

cidade de Viseu, junto ao concelho de Lafões, para aí assentar o canto do tributo das donzellas; 2.° a invenção do nome de Goesto Ansures, por isso que nas tradições populares o que primeiro se perde são os nomes dos pesonagens, e em seguida os nomes das terras. 3.o a interpretação do canto oral da Beira, querendo achar n'elle uma allusão á lenda heraldica que transportou para as cercanias de Viseu.

6.o LENDA EM ALFANDEGA DA FÉ. «É tradição que d'esta villa saíram vinte cinco homens de esporas douradas a expugnar um Mouro potentado, que tinha seu domicilio em um monte, que está á vista da villa de Chacim, fazendo-se no dito sitio insolente, confiado nos mouros que alí o defendiam, pedindo por feudo ás villas circumvisinhas umas tantas donzellas; ao que os moradores da villa e seu concelho responderam com armas; e pelejaram aquelles vinte cinco homens com tal valor, que matando o Mouro e seus sequazes, desassombraram os logares visinhos...» (1)

7.o LENDA EM CASTRO VICENTE. «Tiveram os Mouros uma fortaleza no alto do monte Carrascal, a pequena distancia para o nascente da antiga villa de Chacim, e ali residiram sugeitos a um Alcaide ou rei Mouro, e obrigavam a muitas terras circumvisinhas a que em certos tempos désse cada uma o penoso e barbaro tributo de uma donzella, que sendo pedido á villa

(1) Dicc. abreviado de Chorographia de Port., por. A. d'Almeida, t. 1, p. 37.

de Castro Vicente, seus moradores repugnaram na entrega, tomaram as armas e pediram socorro á villa de Alfandega, que saindo contra os Mouros com muita resolução e valor os destruíram; e porque os moradores de Alfandega se distinguiram singularmente confiando em Deos, ficou a villa d'alí em diante chamando-se Alfandega da Fé.» (1)

8.o LENDA EM CHACIM E MOSTEIRO DE BALSAMÃO. Ha n'esta freguezia a tradição da marcheta exigida por um castellão mouro. Um habitante da Alfandega da Fé recusou-se a ceder sua noiva para a prelibação, d'onde resultou uma renhida peleja entre christãos e arabes; como os christãos eram poucos, Nossa Senhora veiu socorrel-os, trazendo uma ambula de balsamo na mão, com que ia dando vida aos mortos e sarando os vivos. Em reconhecimento da victoria alcançada por este modo, o povo erigiu uma ermida a Nossa Senhora do Balsamo-na-mão, e ainda hoje n'ella se celebra a festividade do Cara-Mouro, resultando para a aldeia o nome de Chacim, da chacina que alí se fez nos infieis, e para a povoação da Alfandega o titulo da Fé. (2)

N'esta lenda ha já o elemento germanico da marcheta a confundir-se com o balsamo das tradições celticas. Vejamos agora a authenticidade da Canção do Figueiral. Na Historia da Musica hespanhola, Soriano Fuertes traz a Canção do Figueiral, com algumas va

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riantes da que recolheu Frei Bernardo de Brito; mas pela citação do Cancioneiro de Dom Francisco de Marialva, d'onde Fuertes extraíu outra canção antiga, e egualmente pela musica que transcreve, se deprehende que o referido Cancioneiro existe hoje em Hespanha, e ao mesmo tempo prova a authenticidade d'esta reliquia poetica. (1) Eis o que diz Fuertes: «Para dar alguma ideia da poesia portugueza do seculo XII e principios do seculo XIII, copiaremos uma Canção extractada de um Cancioneiro antigo, que foi de Dom Francisco Coutinho, Conde de Marialva:

A reyna groriosa

Tan é de gran santidade.» etc.

«Esta cantiga tem a sua melodia notada com as mesmas notas musicaes que se vêem nas Canções de Affonso o Sabio.» (2) D'aqui se deprehende que o Cancioneiro do Conde de Marialva, foi visto por Mariano Soriano Fuertes antes de 1855, em Hespanha; talvez que seja o mesmo que esteve na mão do Dr. Gualter Antunes, e que por sua morte desappareceu. N'este Cancioneiro a poesia tinha a musica notada, e Soriano Fuertes transcreve na sua obra a musica antiga da Canção do Figueiral, e da Reyna groriosa. Reproduzimos aqui a musica da Canção mosarabe que discutimos, e que é uma raridade archeologica :

(1) Op. cit. t. 1, p. 112.
(2) Idem, ib. p. 117.

CANÇÃO DO FIGUEIRAL

Musica antiga, extrahida do Cancioneiro do Conde de Marialva

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