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na cidade Keu hieu cheu, aonde lhe dão o nome Keu yeu hú, e passa junto da cidade Hu ay han fú, aonde desta mesma cidade toma já outro nome Huay han hú, em toda esta distancia de 12 leguas está esta lagoa valada de hum forte muro de pedra que impede a sabida das aguas emquanto não são necessarias para se prover o rio como muitas vezes succede para se poder navegar.

No dia 14 passamos a Huan ho, ou rio amarello. He este rio de summa grandeza, e as aguas de côr amarella, e turvas, se bem que gostosas depois de purificadas para se beberem. Deste mesmo rio se contava que havia pouco tempo tinha estado clara por espaço de tres horas, e que similhantes successos deste rio se achavam escriptos nos livros da China, mas de seculos em seculos. O mysterio sempre ficou occulto, mas ainda assim os Chinas attribuiam a claridade das aguas a huma grande felicidade, e por este respeito tiveram os Mandarins augmento, ficando da primeira ordem os que eram da segunda, e da segunda os que eram da terceira, etc. Ao passar deste rio fez o conductor Tartaro seus sacrificios aos seus Pagodes, e espirito que governa os rios offerecendo-lhe porcos e carneiros, e batendo-lhe cabeça.

No dia 20 de Abril entramos na provincia de Xantum, que he diocese do Bispado de Pekim, e he mais montuosa que as outras por onde passamos. No dia 21 passamos junto de outra lagoa que tambem repartia das suas aguas ajudando a fazer mais navegavel o canal por onde caminhavamos, e neste mesmo dia dormimos junto de huma povoação chamada Sixan, aonde veiu esperar ao Embaixador o Governador da villa Tem hien, que ainda se seguia, e neste mesmo sitio tivemos noticia que os Mandarins desta provincia, alem do aviso geral que todos tiveram, tinham tido huma especial recommendação sobre o tratamento do mesmo Embaixador, que assim o experimentou no agrado com que todos sahiam a recebel-o. Tambem neste dia castigou o conductor Tartaro a hum barqueiro, porque não quiz promptamente desviar-se para que nós passassemos; e chegou tambem da parte do Vice Rey hum seu Mandarim, chamado Xeu Pen, que gover

nava mil soldados, com alguns delles para o hir acompanhando.

No dia 24 tivemos huma noticia de que os nossos Padres de Pekim tinham já licença para continuarem com huma Igreja, que já tinham principiado de S. José, Padroeiro da China, e nos alegrou muito huma noticia como esta, porque suppunham que estava o Imperador contente, pois sem o seu agrado, e beneplacito, se não havia de continuar. No dia 25 encontramos vinte e tantas barcas de Mandarim, que vinham da côrte para a provincia de Nankim acompanhando o cadaver da mulher do Hupú, que he o Thesoureiro geral das rendas do Imperador, e para o conduzir vinha tambem hum Him chay, ou Tagin, que vale o mesmo, e quer dizer homem mandado pelo Imperador. Neste mesmo tempo ficava o Пupú, marido da defunta, na corte, continuando o seu mandarinado, porque a morte da mulher o não impede, assim como os costuma impedir a morte do pae ou da mãe, por quem teem tres annos de luto todos os Mandarins de letras, e nem na China sentem os Mandarins, antes estimam, a morte das mulheres, porque concorrem os Mandarins com muita prata. para ajuda dos enterros, e os vivos se ficam com a maior parte della.

Neste mesmo dia 25 passamos junto de outra lagoa, de cujas aguas se proviam tanto o canal que ficava para o Sul, por onde até então hiamos, como o que corria para o Norte, pelo qual hiamos navegando, e por esta rasão chamam a este sitio os Chinas Fuen xuey titi fam, que quer dizer, logar da repartição das aguas. Nesta fórma fomos continuando, e passando por varias villas e cidades, aonde os Mandarins, alem de visitarem o Embaixador, e lhe offerecerem seus mimos, o hiam acompanhando cada hum até o fim de seu districto.

No dia 19 chegaram respostas das cartas que o Embaixador, e o Muito Reverendo Padre Antonio de Magalhães, escreveram aos Padres da côrte, quando estivemos em Nam cham fu, Metropole da provincia de Kiam si, e na que vinha do Padre Antonio Parreni, Missionario Jesuita Francez, que depois foi interprete na côrte, para o Reverendo

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Padre Antonio de Magalhães se dizia que lidas coram patribus as cartas do Embaixador, assentaram que se fizessem dois memoriaes, hum para o Imperador, outro para o Regulo 13.o, que era irmão do Imperador, e primeiro Ministro do Imperio, e que feitos os levaram no dia seguinte a palacio o mesmo Parreni com os Padres Ignacio Kecler, que hoje he Presidente da Mathematica, e André Pereira; que o do Imperador o não deram por lhe dizer o Colau Po yam bau (são estes Colaus como Conselheiros de Estado do Imperador) que não era necessario por ter o mesmo Imperador já tido aviso de que os dois Tagin, ou conductores, se tinham encontrado com o Embaixador, e o hiam conduzindo por agua, e neste tempo deram os Padres ao Colau as graças pela aposentadoria que se havia determinado para a assistencia do Embaixador na côrte.

Tambem avisava o mesmo Parreni, que o Imperador tinha admittido à sua presença todos os Europeus da côrte no dia 5 da primeira lua, e lhe havia dito: O vosso Embaixador partiu de Cantão, os nossos o encontraram no caminho; os Mandarins de Cantão fizeram muito mal este negocio. No mesmo dia em que admittiu o Imperador os Padres na sua presença, lhe deu também banquete a que esteve presente, e ao despedir-se mandou dar a cada hum duas pelles de zebelina, e duas bolsas para o cinto, e demais disto lhe mandou tambem dar algumas bucetas de laranjas e melões de Hami, que são os melhores entre elles, e lhe vem da Tartaria; e sobretudo lhe mandou para casa tres mesas de comeres diversos de quarenta e cinco pratos cada huma, que os Padres entre si repartiram.

Mais se avisou que o Imperador tratava os Padres com demonstrações de affecto, e que no fim da ultima lua lhes tinha mandado para repartirem entre si vinte veados e cincoenta peixes, cem gallinhas do mato, alguns frascos de amendoas, e pastilhas de Portugal, e tambem letria, e varias frutas, e que por vezes lhe tinha mandado pratos da sua propria meza. Tambem avisaram os Padres que o Imperador nesta occasião do banquete perguntara por que os christãos

não honravam a seus paes? e que respondendo-se-lhe que tinham preceito para os honrarem, ficára muito satisfeito dando a entender que até então vivia enganado.

No dia 4 de Maio, em que já estavamos na Provincia de Pecheli, que he a mesma de Pekim, sahiu a receber ao Embaixador hum Mandarim que governava as postas, e outro Mandarim da cidade antecedente, que até então os acompanhou; ao despedir-se perguntou ao Reverendo Antonio de Magalhães: Este que vem a Cim kum he do vosso Reino? e o Padre lhe respondeu, não vem a Cim kum, id est a pagar tributo, mas sim a Huey ly, isto he a corresponder, porque o vosso Imperador primeiro me mandou a mim com hum mimo para o meu Rey; e o meu Rey agora the manda corresponder com outro mimo por este Embaixador. Com isto ficou o Mandarim muito satisfeito, e eu sempre entendendo que os Mandarins da China nenhum empenho tem em que os Embaixadores da Europa sejam tratados como portadores de tributo; e se usam das palavras Cim kum, ou he por não faltarem aos seus formularios e costumes, ou he porque estas palavras não tem a intelligencia que os Europeus lhe tem dado, como o mesmo Regulo 13.o em huma occasião disse aos Padres da côrte.

No dia 5 passamos junto da villa V-Kiam Hyen aonde os Mandarins sahiram a esperar, e offerecer mimo, e mezas de cousas de comer que todos acceitaram, e aqui soubemos tambem que tinham os Mandarins desta Provincia como os da antecedente, ordem especial para o bom tratamento do Embaixador, e para o acompanharem cada hum no seu districto. Neste mesmo sitio se trocaram os Chinas que puchavam á cirga pelas barcas, como já de antes se fazia por serem as aguas poucas, e não haver ventos, e fomos continuando até huma povoação aonde dormimos, que he do districto da villa Nan py hyen, e porque não veio o Mandarim da villa como vieram os mais a vizitar o Embaixador na barca, deu o conductor Tartaro cincoenta pancadas com hum pau em hum seu criado, que ali se achou, mas chegou ao depois hum criado com hum mimo, e mezas de comeres, que o

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mesmo Mandarim mandou a todos, signal de que os estava esperando preparado, e que não veio ás barcas porque estava impedido.

No dia 6 passamos junto de outra povoação, aonde reparei e vi hum Templo de Pagodes arruinado, e a muitos dos Idolos postos por terra, sem mais ornato que humas pobres esteiras de palha, com que alguns se cobriam, que os mais estavam todos ao sereno, e disto mesmo que já tinha visto em outras povoações, fiquei conhecendo a pouca reverencia que os Chinas dão aos seus Idolos, e que se os adoram de algum modo, he por seguirem as pisadas dos seus progenitores, e não porque creiam, nem tenham fé nos mesmos Idolos, e desta sorte se acham os Chinas entre varias seitas, mas sem lei alguma que reconheçam por verdadeira; por cuja razão se não acha nos Chinas horror e opposição à nossa lei, a qual se não seguem e abraçam todos os Chinas, he por não largarem varios costumes, como he o de cazarem com quantas mulheres querem, o que a nossa religião lhes não admitte.

No dia 11 pelo meio dia chegou carta dos Padres da côrte com avizo para o Embaixador de que as cousas lá estavam preparadas, e pela tarde chegaram outras cartas com avizo do que tinham feito ao Regulo 13.o e de que este lhe dissera, que em o Embaixador chegando à cidade Tien Sin cheu o avizasse para se determinar o que se havia de fazer. No dia 43 mandou o Padre Magalhães dar hum pouco de arroz a huns soldados que nos acompanhavam, e porque era já cozido, o não acceitaram dizendo que eram mouros, e não comiam cousa já cozida por outrem, e nem uzavam de louça de que outrem uzasse. Tocamos isto para que se saiba que tambem naquelle Imperio ha mouros que têem suas Mesquitas aonde sacrificam ao verdadeiro Deos do Ceo, a quem dão o nome de Xam Ti, como os primeiros Chinas christãos lhe chamavam antes dos decretos pontificios, que novamente houve sobre esta materia nos quaes se não permitte os nomes Xam Ti, e Tyen mas sim o nome Tienchu, que quer dizer o Senhor do Ceo, e não faltam tambem neste Imperio algumas fami

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