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dor, houve tambem quem disse (sem ser chamado) que devia o Embaixador primeiro participal-o ao Vice Rey de Cantão, por duas razões. Primeira, porque do contrario se poderia o Vice Rey sentir, e poderia talvez tornar-se-lhe a commetter o negocio para elle o compor. Segunda, porque não se lhe dando parte do recurso á côrte, era mostrar que o Vice Rey não tinha poder para emendar o erro e engano das letras do Cim kum e que tinha sido erro o tratar-se com elle até então o negocio e não se recorrer logo de principio ao Imperador.

No dia 30 de Setembro teve o Embaixador huma chapa, ou carta do Mandarim da villa de Ansão, em que o tratava com muitas cortezias, e da parte do Vice Rey lhe segurava o seu bom tratamento; e aos 5 de Outubro chegou outra chapa do mesmo Mandarim que mostrava ser feita depois de receber a ultima que o Senado lhe mandou na qual o mesmo Senado The fallava no titulo de portador de tributo que tinha dado ao Embaixador, e depois de dizer o mesmo Mandarim que aos 9 da 9. lua, mandava as barcas, passava a dar huma satisfação sobre o titulo, dizendo que fôra erro do Escrivão que escreveu a chapa.

Todas estas diligencias mostravam a ancia dos Mandarins, porque o Embaixador se determinasse, talvez porque receiavam se desgostasse o Imperador de elle não partir no tempo que o Vice Rey naquelle memorial o avisou, e acrescentavam tambem mais razões para que o Embaixador se resolvesse sem intentar outro recurso; mas o mesmo Embaixador ainda não satisfeito se resolveu por ultimo a escrever duas. cartas, que mandou por hum seu criado a Cantão, huma para o Vice Rey em que lhe dizia que como ali o tratavam como portador de tributo, se resolvia a recorrer ao Imperador por meio de huma carta cuja remessa pedia ao mesmo Vice Rey, e juntamente que quizesse concorrer para se alcançar o seu passaporte; e na outra que hia para o Imperador lhe pedia o quizesse mandar receber como Embaixador de Portugal, e como quem só hia da parte do seu Rey a felicitar a sua exaltação ao throno, e não a pagar tributo, e para este re

curso tomou o Embaixador por pretexto, que os Mandarins de Cantão o não podiam segurar fóra do seu territorio.

No dia 6 do mesmo mez chegaram a Macau dois Mandarins inferiores, hum da casa do Vice Rey, e outro da villa de Ansão, e ambos para conduzirem ao Embaixador, com 120 homens que comsigo traziam. Logo que estes Mandarins chegaram á porta do Cerco (he a divisão de Macau com as mais terras da China) abateram as bandeiras, e outras insignias do Estado, que traziam, e fizeram tambem calar as baticas, tudo em obsequio, e attenção ao Embaixador. Estes mesmos Mandarins lhe traziam hum mimo do Governador de Ansão, que de mais lhe mandou dizer que não vinha em pessoa, porque estava molestado.

No dia 8 visitaram os Mandarins ao Embaixador, que os recebeu com agrado e cortezia, não consentindo que lhe batessem cabeça como queriam, e no mesmo acto lhe deram o recado do Governador de Ansão, e lhe offereceram com papel de visita, a memoria das cousas como he costume seu, e o mimo, o qual o Embaixador recebeu, e correspondeu com outro, e aos mesmos Mandarins mandou tambem algumas cousas que receberam, e pertenderam agradecer por meio de hum Tiesu ou papel de visita, que se lhe não acceitou por ser em papel azul, signal de huma grande humildade de quem. offerecia; não fez assim o Patriarcha Mezzabarba, que até dos maiores Mandarins da villa de Ansão pertendeu Tiezu, ou papeis de visita de similhante papel, não advertindo no que ao depois lhe hia succedendo em Cantão em menos attenção do seu caracter, como já acima notamos.

No dia 9 mandaram os mesmos Mandarins dizer ao Embaixador, que o Vice Rey de Cantão os avisava, e ordenava The dissessem, que visto querer recorrer á côrte se podia, no entanto que esperava a resposta, passar a Cantão, onde tinha boas casas, e frescas. E no dia 10 de Outubro se foram de Macau desgostosos de não acharem ao Embaixador resoluto a passar á China, sem primeiro recorrer ao Imperador, quando o Vice Rey, e mais Mandarins de Cantão, entendiam se tinha reduzido, e da sua resolução se tinha já

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feito aviso ao seu Imperador, que poderia naquelles termos estranhar-lho.

Aos 11 chegou de Cantão carta ao Embaixador do mesmo seu creado, que tinha levado as duas para o Vice Rey, e Imperador, com aviso de que se lhe difficultava entregal-as, e fallar ao Vice Rey, e o Embaixador lhe mandou que seguisse as ordens que tinha levado, que entregasse as cartas ao Vice Rey, e lhe pedisse a resposta. Aos 16 chegou o creado a Macau com a noticia de que só tinha sido admittido por via do Chifu ou Governador da cidade a fallar com o Puchimçu e Thesoureiro da Fazenda, e com o Nganchaçu ou Ministro do Crime, e que todos lhe fallaram com agrado, mas não tinham querido acceitar-lhe as cartas dizendo que se não atreviam. Que perguntando-lhe os mesmos quando o Embaixador havia de vir, respondera que só tinha hido a Cantão entregar aquellas cartas, e não levava ordem para obrar mais nem dizer; e o China que em Cantão foi seu interpretre, e veiu com elle a Macau, disse que perguntando-se-lhe a elle a rasão por que não hia o Embaixador, respondera, que por amor das letras do Cimkum, e que então lhe disseram os Mandarins, que daquellas palavras só podia usar gente baixa, que não conhecia a differença entre ElRey de Portugal, e o de Siam, e outros que vão a pagar tributo, e que já o Tito ou Mandarim da porta do Cerco estava advertido que não usasse de semelhantes palavras, que de tudo isto desse parte ao Embaixador, a quem, se o tratassem de portador de tributo, não teriam feito as cortezias, que tinham experimentado, e que nunca fizeram a Embaixadores tributarios.

No mesmo dia 16 chegou ao Senado de Macau huma chapa do Governador da villa de Ansão, em que lhe dizia que o Chifu de Cantão novamente lhe ordenava soubesse do dia em que o Embaixador havia de hir, porque queria dizel-o ao Vice Rey, que o queria saber. Que esta diligencia tinha já feito por repetidas vezes por ordens do mesmo Chifu, que traziam penas queimadas (nisto se denota a ligeireza e brevidade com que as ordens dos Mandarins na China devem executar-se) que elle Mandarim por não poder hir a Macau,

de la batia cabeça ao Embaixador, e que visto se acharem os do Senado mais perto, lhes pedia soubessem a determinação do dia em que havia de hir, que importava fosse brevemente por se ter avisado a côrte, que poderia partir até os 9 da 9. lua, e já nesta chapa se achavam as cousas do mimo tratadas como taes, e não como tributo.

No dia 17 chegaram outra vez a Macau aquelles dois Mandarins de que fallamos no n.° ..., e logo pertenderam fallar ao Embaixador, mas como estava impedido com alguma molestia, buscaram ao Secretario, que não tinha impedimento para podel-os ouvir. Logo que se avistaram lhe perguntou o Secretario pelo negocio a que vinham, e dizendo-lhe que vinham a conduzir o Embaixador, lhe respondeu que elle se não determinava sem primeiro o Vice Rey acceitar, e responder-lhe à carta, que lhe tinha mandado a Cantão; que se elles quizessem levar-lha se lhe entregaria com outras mais para o seu Imperador, e respondendo-lhe o Vice Rey poderia tomar alguma resolução: a isto disseram os Mandarins, que o Vice Rey já sabia o que a carta continha por huma razão, que se lhe tinha dado della (esta versão se fez por huma copia da mesma carta, que o Embaixador remetteu ao Padre José Pereira, para a ter feita antecipadamente, no caso que se lhe commettesse a fazel-a) e se não atrevia a recebel a por hir em letra europea, e nem a do Imperador, porque já o tinha avisado da sua hida para a côrte quando partiu o Muito Reverendo Padre Antonio de Magalhães.

Á vista desta resposta dos dois Mandarins, os devia logo o Secretario dar por ouvidos, visto que não traziam cousa de novo que concluisse o negocio; mas tendo ouvido que elles traziam certas chapas ou cartazes para pôrem nos logares publicos de Macau, antes de despedil-os thes perguntou que chapas eram humas que elles traziam para se publicarem? A isto lhe responderam que já as tinham posto em alguns logares publicos, que o que continham era huma declaração ao povo, de como o Embaixador só hia dar os parabens ao seu Imperador, e não a pagar tributo. Aqui lhe disse o Secretario, que como assim era se examinariam as mesmas

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chapas, e do que á vista dellas o Embaixador resolvesse, se The daria resposta, e com isto se despediram os mesmos Mandarins, e o Secretario entrou na diligencia de fazer verter as chapas, que continham o seguinte:

Eu, Quarta Cadeira (he o mesmo que quarto accessor) da villa de Ansão, venho por ordem dos Mandarins superiores a conduzir o Embaixador da Europa. O Embaixador da Europa não he tributal, sim vem a dar os parabens ao nosso Imperador: ordeno aos Cabeças das ruas (cada huma rua da China tem hum Cabeça que dá conta ao Mandarim do que nella succede) que achando que alguem falla que o Embaixador he tributal, o prendam, e amarrem para se remetter ao Chifú a Cantão, e ser castigado, isto faço para que se não queixem de mim.

Á vista destas chapas que se pozeram nos logares publicos de Macau se não deu o Embaixador ainda por satisfeito por serem passadas em nome de hum Mandarim inferior, qual era a Quarta Cadeira da villa de Ansão, e assim assentou comsigo não se resolver a entrar na China sem ter ordem do Imperador, que lhe conviesse, ou o mesmo Vice Rey em chapa sua lhe declarar que não hia a pagar tributo, segurando-lhe que em todo o Imperio não havia de ser tratado como portador delle; mas ao depois a beneplacito do mesmo Embaixador, se avistou o Secretario com os ditos Mandarins, e pactuou, que elle se resolveria, se elles trouxessem chapa do mesmo Vice Rey, em que declarasse que não hia a pagar tributo; e se juntamente lhe assegurasse, que em todo o Imperio havia de ser tratado como Embaixador, sem se fallar por modo algum em tributo, se he que o Vice Rey, o podia segurar, porque não podendo então deveria remetter-se a carta ao Imperador, e no entanto que chegava a resposta se demoraria em Macau.

Os Mandarins entendendo que o Vice Rey comporia o negocio na fórma que o Secretario lho propunha, acceitaram a proposta, a qual o mesmo Secretario lhe fez escrever, ficando-se com a copia por evitar alguma duvida, e se partiram para Cantão. Aos 22 de Outubro festejou o Embaixador os

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