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cas horas do mesmo dia foi desempedido de ordem minha pelo coronel José Narciso de Magalhães, e intimado que no dia successivo me viesse fallar o coronel Freire.

Que na tarde do mesmo dia da prisão appareceu na minha sala o referido coronel com suspeitas de má fé contra o ajudante de ordens Clavière, persuadido de que a prisão tivera origem d'elle: assim deu demonstrações pelos tregeitos e modos com que ali o tratou. Percebeu este novo escandalo do coronel o outro ajudante de ordens, D. Miguel Pereira Forjaz; insinuou ao companheiro Clavière que se esforçasse a convencer que estava inculpavel no incommodo antecedente do coronel Freire. Assim o persuadiu com vivas instancias o mesmo Clavière, e eu fui ali mesmo obrigado a responder, que a prisão d'elle coronel foi faltar ás minhas ordens, o que não convinha ao real serviço; porém o seu odio e malquerença continuou para ultrajar em publico e ausencia a Clavière, todas as vezes que se fallava no seu nome.

Que passados muitos dias veiu jantar comigo o dito coronel, e quando acabou foi-se metter em uma sordida casa de bebidas, ou café publico, onde encontrou um official hespanhol, rapaz, sobrinho do general Curten, e por motivo de antecedentes dissenções, havidas entre os soldados dos dois exercitos, trouxe á conversação o coronel Freire este passado assumpto, e d'elle resultou, com palavras picantes, travarem-se de rasões, insultar ao dito official, desafiarem-se e chegar esta desordem aos ouvidos do general em chefe hespanhol, que informado do caso, mandára prender o seu official, e chamando o meu ajudante Clavière, ordenára que me participasse tambem para prevenir estes publicos attentados entre officiaes de nação amiga e alliada: em consequencia do que determinei fosse recolhido à sua barraca o coronel Freire até constarem haverem promettido ambos de não fazerem novas pendencias.

Que na occasião em que o coronel Mestral desafiou o coronel Freire, pelo injuriar com termos indecentes, por parte d'este escreveu o major Antonio de Sousa Falcão ao tenente coronel Manuel Ignacio Martins Pamplona para ser padrinho

d'este desafio, bem certo que esta circumstancia seria o modo mais prudente de evitar o conflicto do ataque, e por que logo vim a saber, mandei pôr ambos em custodia nas suas barracas, seguindo-se o termo judicial de bem viver, que de ordem minha assignaram perante o desembargador auditor geral; foram soltos, e em poucos dias quebrantado o dito termo pelo coronel Freire, que passou ao excesso de fazer maior insulto na minha presença ao mesmo coronel Mestral, de que o mandei prender, ficando no castello de Figueras até ser solto de ordem de sua magestade com as justas e sabias providencias, que tomou a mesma senhora com a honra ultrajada do mesmo coronel Mestral.

Que ainda não contente este coronel com as injurias feitas a Mestral, em odio e vingança da prisão em que se achava no castello, teve a animosidade de retratar pela sua propria mão curiosa a figura inteira do dito Mestral na parede da casa onde residia, para ser visto e reconhecido como foi por todas as pessoas mais graves e sérias que o visitaram. Esta pintura representava quasi na sua estatura o coronel Mestral, vestido do seu fardamento sem espada, e em logar d'ella uma roca com linho e fuso, com que fiava. Eu mesmo que fui á prisão visitar benignamente este coronel para lhe desterrar toda a desconfiança de que a superioridade do meu logar, d'onde emanou o castigo, me não dispensava de o tratar com politica e civilidade como homem particular, vi então e presenciei esta escandalosa pintura, a qual mandei depois riscar e reprehender o coronel d'aquelles excessos, proprios de rapaziadas, antes que a parte offendida e queixosa houvesse de reclamar e pedir a devida satisfação d'esta nova injuria. Que successivos desatinos faz o esquentado cerebro de um militar imprudente!

Que apesar da real clemencia com que a nossa augusta soberana mostrou com a prisão d'este coronel, tem continuado e teimosamente insistido em buscar de proposito occasiões de mais ultrajar o seu adversario. Elle se tem servido da auctoridade do seu logar para vindicar paixões particulares; tem descomposto com altivez e soberba publicamente aos

officiaes do regimento de Mestral em acções do real serviço; tem-se valido de algum descuido e inadvertencia dos soldados para ordenar como commandante do campo, que fossem mettidos todos em recruta e ensino de manejo de armas, colorando este affectado zêlo do real serviço com determinar tambem para a mesma escola alguns soldados do seu proprio regimento. Dirigiu esta ordem ao coronel José Narciso de Magalhães para aprenderem no regimento do Porto, como se cada um nos seus respectivos corpos não tivesse habeis commandantes de companhias para exercitarem os seus soldados. O que tudo me foi presente pelo coronel Mestral, para o pôr na real presença, o que já satisfiz por outra via, que remetti a v. ex.a Emfim é um encadeamento de alucinações proprias de um espirito de vertigem, incapaz de governar homens.

Que se dirá d'este coronel pela sua reincidencia de culpa, á vista da correcção que já teve, acerca dos soldados não irem com guias para o hospital, quando se demonstra na relação inclusa os muitos individuos do seu regimento, escoltados por um cabo, que em debandada tinham ido para Barcelona, sem passaportes, nem ordem alguma do commandante interino das tropas durante a minha enfermidade! Quanta surpreza e admiração dos povos d'aquella cidade e da tropa hespanhola, que com justa causa mofariam da indisciplina e confusa desordem de um regimento, que sempre é responsavel d'elle o seu commandante! Este montão de soldados, sendo-me apresentado em Arens de Mar, os fiz logo recolher ao seu corpo, e passados poucos dias outra turma de debandados, que vinham de volta de Barcelona para Gerona, ficando assim mesmo alguns n'aquella cidade, aonde já passei as ordens mais restrictas para se recolherem todos aos seus corpos. Não farei mais reflexões, que parece incorregivel este coronel, o qual, devendo olhar sobre as suas obrigaçoes, trata só dos defeitos alheios! Querendo mais para si prerogativas de brigadeiro para receber individualmente rufos nas guardas a titulo de graduação aerea d'este posto, que arrogou a si, e a lei aboliu nos exercitos, deixando-o sómente

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para os coroneis reformados, nomeando o mesmo coronel, mais por vangloria que por interesse do real serviço, majores de brigada para inverter a ordem militar, o que na verdade havia tolerado e disfarçado por não descontentar de todo este official, e pelos meios de moderação ver se sujeitava e abrandava o seu genio.

Que para concluir não devo passar em silencio declarar o inaudito attentado que fez este coronel de um plano escripto no idioma francez, em que mostra os erros da campanha do Roussillon de 1793 para 1794, dirigido contra a honra do respeitavel nome do nosso general em chefe, o fallecido conde da União em tempo que vivia, e a quem pelas instrucções reaes somos obrigados a venerar, respeitar e obedecer impreterivelmente ás suas ordens, e a cumprir os seus bandos geraes, publicados no exercito, como se fossem para nós outras tantas leis militares. Foi este mesmo general que o coronel atacou em um indiscreto e satyrico plano, que patenteou a muitas pessoas, dizendo que o mandaria imprimir a Inglaterra, ou a qualquer outro paiz, aonde é livre todo o genero de impressão. Que dirá a isto a nação hespanhola? Chamal-o-ha impostor, por desacreditar a honra do seu general em chefe, que mereceu sempre a contemplação mais benigna do seu augusto monarcha.

Basta de envergonhar este coronel, que bem a meu pezar fui constrangido de officio a fallar livremente d'elle, por ver me tem atacado tambem com os libellos infamatorios, que já enviei a v. ex.3, os quaes tem feito publicos com os seus socios, o coronel José Narciso de Magalhães, e o tenente coronel Pamplona, offendidos da relação, que traz a Gazeta dos dias 17 e 20 de novembro passado. Resta-me lembrar que estes tres socios, depois de formalisarem a escripturação satyrica dos libellos, todos macumunados, deram-me partes de doente, como se o real serviço, a quem devem as honras, soldos e os mais interesses inherentes às suas graduações, devesse ficar suspenso pelos seus caprichos, e elles ociosos, até talvez esperarem o tempo do resultado das suas contas, que contra mim deram á côrte; porém na devassa da alçada

de justiça, que tenho exigido, se provará esta escandalosa notoriedade, para sua magestade fidelissima providenciar como for de justiça. O que tudo participo a v. ex.a para subir à real presença, como espero.

(De Lisboa respondeu-se a este officio de Forbes, mandando retirar Gomes Freire e o tenente coronel Pamplona para o reino, como consta do officio do ministro dos negocios estrangeiros e da guerra, Luiz Pinto de Sousa, datado de 7 de fevereiro de 1795.)

DOCUMENTO N.o 41-A

(Citado a pag. 587)

Gomes Freire, tendo dirigido ao general Forbes uma extensa carta em francez, em que não só se queixava do mesmo Forbes não ter devidamente elogiado a tropa portugueza de um modo condigno ao seu merecimento, por occasião da retirada do acampamento de Figueras para o de Gerona, em 20 de novembro de 1794, mas até de não ter narrado a acção d'aquelle dia pelo modo por que se passou, alardeando elle Gomes Freire façanhas que parece não ter praticado, com ella lhe entregou juntamente o seguinte requerimento, para lhe dar seguimento.

Senhora!-Diz Gomes Freire de Andrade, coronel de um dos regimentos de que se compõe o exercito de vossa magestade na Catalunha, que elle tem servido nas duas campanhas proximas passadas com aquelle valor e zêlo que se deve esperar de um official, que vossa magestade se dignou honrar de uma patente; que o mesmo praticou o supplicante na retirada que as tropas de sua magestade catholica fizeram de Figueras para Gerona; porém achando-se n'este dia commandando uma brigada, composta de tres regimentos, e vendo ao depois pela relação, que o general Forbes de Skellater fez a vossa magestade da referida retirada, que a tropa é arguida de se ter inquietado bastantemente com o fogo do inimigo, de modo que este general fôra obrigado a raleal-a no monte de Avignionete, o supplicante acha a sua honra

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