Casa; a forão acompanhando a pé, e descobertos: João Xavier da Silveira, seu Estribeiro, hia a pé da banda direita immediato á portinhola da cadeira, e os Moços da Camara diante no mesmo lugar, em que acompanharão a ElRei.

Depois de se meter debaixo do Pallio, caminhou a Rainha até onde estava o Arcediago revestido, que The deo a Cruz a beijar no mesmo lugar, em que já o fizera a EIRei, para o que se apeou o Marquez das Minas seu Estribeiro-Mór, que hia a cavallo atraz da cadeira, e mandan do-a a Rainha parar, abrio o Marquez a portinhola, quanto bastou para a Rainha beijar a Cruz em pé, e o Clero começou a entoar os Psalmos, que dispõe o Ritual; e voltando na mesma forma, que se havia praticado com ElRei, se foi seguin do a procissão diante da Côrte, que hia immediata á cadeira, em que hia a Rainha. Ao entrar da porta, da banda de fora estava em hum balcão de madeira o Magistrado, e a

Vereador mais antigo, que servia na ausencia de Juiz de Fora, lhe fez huma breve oração, e lhe offereceo as chaves, que a Rainha tomou da Salva, e lhas tornou a pôr, e tomá rão os Vereadores as varas do Pallio debaixo do qual hia a Rainha na cadeira, e detrás della o Marquez das Minas a cavallo, que a guarda dos Archeiros cobria.

Seguião-se os coches das Damas, e Açafatas Alemaãs, e nesta forma chegou á Collegiada, e se apeou fora da porta, e a receberão com Pallio á porta da Igreja. Da parte de dentro estava huma alcatifa, e chegando a Rainha, o Duque de Cadaval, seu Mordomo-Mór, lhe poz huma almofada para ajoelhar, e beijar a Reliquia, e deitando-lhe agua benta o Cardeal da Cunha CapellãoMór, se foi a Rainha para o sitial; e depois dos Conegos cantarem o Té Deum, e as orações determinadas em semelhantes actos, voltou debaixo do mesmo Pallio até á porta da Igreja, e ficando o Clero, as Reli

giões se rétirárão, e a Rainha entrou na cadeira, acompanhada de toda a Côrte, debaixo do Pallio, e passando pela Igreja de Nossa Senhora da Piedade, Imagem de grande devoção, fez a Rainha oração, e se recolheo ás casas, que lhe estavão preparadas pelo Aposentador-Mór o Conde de Sant-Iago.

CAPITULO XII.

Retirada das Tropas Portuguezas de Catalunha para Portugal.

COM

OM O Tratado da suspensão de armas, que temos dito, se deo por terra livre passagem a todos os mantimentos necessarios pelo preço do paiz ás Tropas Portuguezas, que servião ao Imperador Carlos VI. em Catalunha; e sendo todo o Tratado executado com boa fé, sahirão as

Tropas dos quarteis a 7 de Janeiro deste mesmo anno. Achando-se doente o Conde de Atalaya D. Pedro Manoel, Mestre de Campo General, veio por este motivo governando as ditas Tropas o General de Batalha D. Pedro de Almeida (depois Conde de Assumar) que começou a dispor tudo para a marcha. Despedido da Imperatriz Izabel, que ainda ficou naquelle Principado, com todas as demonstrações de agradecimento do bom serviço, que assim elle, como as Tropas, com tanta gloria da sua Nação, lhe tinha feito, passou pela posta a Girona, aonde o Marechal de Staramberg, estava bloqueando aquella Praça a despedir-se delle.

Nesta dilatada, e difficil marcha de cento e oitenta legoas mostrou D. Pedro de Almeida com louvor dos inimigos a sua prudéncia, que não era menor, que o seu valor, que havia acreditado desde o principio da guerra, em que entrara a servir de poucos annos neste Reino, e depois quando passou a Catalunha

acompanhando seu Pai o Conde de Assumar D. João de Almeida, Embaixador Extraordinario na Côrte de Barcellona, do Conselho d'Estado, onde igualmente desempenhou as obrigações do seu caracter, assim nas occasiões públicas, como nas militares, em oito annos, que durou a sua missão.

Sahirão as Tropas dos quarteis de inverno sendo cada Regimento conduzido até á fronteira por hum dos primeiros Cavalheiros Catalães, prevenção, que a Imperatriz julgou precisa, e necessaria; porque a ausencia das nossas Tropas era contraria aos interesses dos Catalães, por se supporem com o Armisticio expostos á indignação d'ElRei Filippe V., e sendo de genio pouco soffridos, e faceis em pegar nas armas por qualquer leve motivo, a menor desordem, que succedesse, ou por falta de viveres, ou por qualquer outro respeito, lhe servia de pretexto para pôrem em sublevação todo