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ELEMENTO GOTHICO-ARABE

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gião, poesia, costumes e direito, que tudo affeiçoaram a esse typo que admiravam; a este elemento aristocratico, que veiu a dominar na reação christa da Peninsula, devemos chamar-lhe os gothico-romanos. Aos segundos, que ficaram em contacto com os arabes, e d'elles aprenderam a industria, a tolerancia e a egualdade politica, a ponto quasi de se fundirem com elles, chamâmos o elemento gothico-arabe; é ao estudo d'este periodo a que damos o nome de Nacionalitteratura portugueza.

CAPITULO I

Os Mosarabes e a Nacionalidade portugueza

Aonde se procura a verdadeira poesia de um povo.-A invasão germanica na Peninsula. -O lite germanico, seu caracter, e sua importancia historica. -O Foral e o costume da tribu.Symbolismo germanico indicando nos usos portuguezes o veio da raça.O wisigodo dá o elemento primario do povo portuguez.-Lueta do Christianismo contra os costumes e poesia dos Godos.-Acção do elemento germanico na lingua rustica. -O lite germanico na invasão arabe. - Influencia externa do semita.O Arabe não transformou o genio poetico do Godo que acceitou o seu dominio.-Creação do Mosarabe e seu caracter artistico.

Dá-se muitas vezes o extranho phenomeno de não se encontrar a poesia de um povo nos seus poetas; estes, desvairados pela erudição academica, ou pelas exigencias e fascinações do gosto, deixam-se levar pelas fórmas convencionaes, pela imitação dos modelos sancionados como bellos, e esquecem a sua propria natureza, falsificam o sentimento e perdem a nacionalidade. De todos os povos da Europa só a Inglaterra e a Hespanha souberam respeitar a sua poesia. Procurando-se o caracter da poesia romana debalde se encontra nos seus maiores poetas, que se esqueceram das tradições etruscas, e corromperam a metrificação organica da lingua latina, trocando a accentuação pela quantidade grega, expressando o sentimento como o fizeram Pindaro, Alceu e Sapho, descrevendo a natureza como a

pintaram Homero e Hesiodo, e parodiando a vida como nos typos de Aristophanes e Menandro. Apesar do absoluto dominio dos Rhetoricos de Roma, Vico soube achar uma severa poesia na sua jurisprudencia; e pelas modernas reconstrucções historicas, se tem determinado a existencia do Canto dos irmãos Arvales, das Cantigas a Julio Cesar, a Vigilia de Venus, e infinitos vestigios a que alludem os escriptores latinos. (1) Antes de descobrir a sua poesia nacional, a França entregou-se á imitação da antiguidade grega e romana, impôz as normas do gosto, e despresou as ricas epopêas que fecundaram a alma moderna, contando a sua inspiração desde Malherbe. O mesmo aconteceu com a Allemanha; no seculo XVI, Luthero tornou escripta a lingua popular, e, só depois da revolução do Romantismo, é que se conheceu a vastidão d'esse grande cyclo épico dos Niebelungens.

Isto, que aconteceu em povos com caracteres de raça mais pronunciados, era fatal e inevitavel em Portugal: do seculo XII a XIV fômos provençaes, no seculo xv hespanhoes, no seculo XVI italianos, depois francezes; contamos livrarias de poetas, mas apenas em Camões se acha um sentimento de nacionalidade e uma séria comprehensão das primitivas lendas populares da nossa historia. E comtudo, não existe um povo sem poesia, porque é impossivel a existencia sem receber

(1) Du Méril, Poesies populaires latines anterieurs au douzième siècle, p. 103 a 116.

impressões, sem a communicação d'ellas, sem a linguagem, sem a tradição, sem o costume, sem a theogonia, sem o symbolo. O povo portuguez tambem teve uma poesia propria, nacional, filha do genio da raça a que pertencia, cantando as paixões e as phases da vida, acompanhando as suas transformações, contando a sua historia mais ou menos apagada, mais ou menos original. Ninguem suspeitou tal existencia; alguns poetas, como Gil Vicente, tiraram d'ella grandes recursos de espontaneidade, mas não com o respeito que dá a verdadeira comprehensão. Aconteceu tambem, para maior fatalidade, que a poesia nacional foi a ultima que se recolheu da tradição oral, e por consequencia a que apparece hoje menos vasta e a mais obliterada. Mas era preciso que essa poesia se tornasse uma expressão profunda da vida, para que, passados quasi outo seculos, se encontrem ainda para cima de cincoenta epopêas medievaes, que o tempo foi abreviando, nos tres grandes fócos da poesia portugueza - Beira Baixa, Algarve e Ilhas dos Açores. Procurar na intima organisação da raça mosarabe, que constitue o povo portuguez, os elementos primarios que entraram na creação dos Romanceiros, eis o que fórma o objecto d'este livro. Todas as investigações seriam sem criterio, se por ventura se não acompanhar o problema do genesis da raça.

A influencia do dominio romano no territorio portuguez não exerceu nenhuma influencia organica; Roma conquistava com as legiões, mas não povoava; deixava os costumes e as leis ás povoações submettidas

ao seu dominio e explorava-as com uma absorvente administração do seu governo militar. Essas auctoridades chamadas Consules, Pretores, Proconsules, Propraetores, Presidente, Prefeitos, etc., as divisões provinciaes, em nada contribuiam para a transformação ou assimilação da raça que subjugavam. Quando no seculo v entraram na Peninsula os Barbaros do norte, os invasores não ficaram em contacto com uma sociedade romana, para se confundirem com ella. Imitaram os romanos os godos da classe nobre que destituiram esses magistrados, e para quem era um assombro a sua cultura; o godo servo, trazido na corrente da invasão pelo vinculo da adscripção e da fidelidade, não encontrou uma plebe romana com quem se misturasse, mas achou essa brandura das migrações celticas que facilmente absorveu na sua individualidade. Assim, no tropel da raça germanica que avassallou a Europa chegando á Peninsula no seculo v, é que se deve procurar o elemento primario da nossa nacionalidade.

Os Wandalos, sempre batidos pelas outras tribus, vieram recuando para o sul da Europa, arrastando comsigo os Alanos e os Suevos; transpozeram os Pyrenneos e sacudiram a dominação romana, já de si enfraquecida. Os Wandalos occuparam a Betica, os Alanos estabeleceram-se no territorio a que se chamava Luzitania, e os Suevos ficaram senhores da Galliza. (1) Á

(1) Gallaeciam Wandali occupant et Suevi, sitam in extremitate Occeani maris occidua. Alani Luzitaniam et Carthaginensem provincias, et Wandali, cognomine Silingi, Boeticam sortiuntur.» Idacio. Chron. p. 232.

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