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222813

REVISTA

DO

STANFORLIBRARY

INSTITUTO HISTORICO E GEOGRAPHICO DO BRAZIL.

3. SERIE.-N. 13. 1. TRIMESTRE DE 1854.

APONTAMENTOS

Sobre alguns factos notaveis, que se acham relatados na historia da fundação da cidade da Assumpção, capital do Paraguay, e das conquistas dos Hespanhóes no Rio da Prata; obra escripta no começo do seculo XVII, pelo Paraguayo «Ruy Dias de Gusman», descendente de um dos conquistadores,

I.

Farei agora menção de dous importantes factos, concernentes á exploração feita por Sebastião Caboto no Rio da Prata, dos quaes omitti eu tratar no logar competente, para não cortar o fio da narração, que encaminhára ao fim particular de descrever circumstanciadamente a catastrophe do forte do Espirito Santo. (Ensaio romantico, sob o titulo de Lucia de Miranda: impresso no Guanabara do mez de Setembro de 1851.)

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É o o primeiro d'estes factos a expedição que fizera Caboto de cinco homens, escolhidos d'entre os seus ousados aventureiros, designando para seu chefe um d'elles chamado Cesar.

Esta expedição partiu do porto do Espirito Santo durante o tempo em que se occupava Caboto na fundação do forte que ahi levantára; seguindo caminho de terra, e com recommendação de dirigir as suas marchas entre o meio dia e o poente: devendo regressar ao ponto da partida no fim de tres mezes, si dentro d'este prazo tivesse

ella descoberto alguma nação de indigenas, notavel pelo seu poder, ou por suas riquezas.

Para melhor comprehender-se o motivo que induzira Caboto a tentar essa exploração, na qual aquella expedição devêra ir apparentemente como que à ventura; preciso é dizer, que esse famoso navegador, depois de haver adquerido grande nomeada, por occasião da descoberta dos Bancos da Terra Nova, achando-se então ao serviço de Inglaterra (em uma viagem destinada a procurar a communicação entre o atlantico e o mar das Indias Orientaes, pelo poente); excitado pelos importantes descobrimentos feitos pelos Hespanhóes na America Meridional, offereceu os seus serviços ao Imperador Carlos V, suggerindo-lhe a idéa de abrir uma communicação mais prompta para o Perú, que acabava de ser visitado por Pizarro; remontando o curso do Rio da Prata, com o intuito de achar uma communicação directa entre as aguas d'esse rio e o imperio dos Incas.

Cesar, com os seus companheiros, havendo-se internado n'essa região desconhecida, foi ter a um dos ramaes da Grande Cordilheira, transposto o qual achou-se em dilatadissimo valle, onde encontrára uma nação de Indios, em gráo de civilisação notavelmente superior ao de todas aquellas que havia até ali visitado e dando elle á expedição que capitaneava o caracter de uma solemne embaixada da parte do seu soberano, apresentou-se n'essa cathegoria ao chefe dos indigenas, o qual o recebêra com affabilidade, dando-lhe bom agazalho, e aos da sua comitiva.

Passados muitos dias na communicação d'essa boa gente, cujo trato muito agradára aos exploradores hespanhóes, determinou Cesar regressar ao ponto da sua partida, afim de dar conta a Caboto do resultado da expedição, na fórma que este ordenára nas instrucções que lhe havia dado e solicitando para isso licença do chefe indio, com o fundamento de haver já preenchido o fim da sua missão, elle o enchèra de ricos presentes, e aos seus companheiros, não só de valiosos objectos de ouro e de prata, como tambem de finos estofos de laa fabricados no paiz; mandando além

d'isso acompanha-lo por uma escolhida força de Indios, que julgou necessarios para o seu serviço e defesa.

Chegado Cesar ao porto do Espirito Santo, e encontrando ahi sómente as ruinas do forte já destruido pelos selvagens, resolveu voltar com a gente que o acompanhava, em demanda da paragem d'onde havia regressado. Mas pondo-se a caminho n'este intuito, o acaso o conduziu, depois de longas e peniveis marchas, a um ponto da Grande Cordilheira, que lhe facilitou o ingresso no Perú, chegando á Cusco na occasião em que Francisco Pizarro acabava de prender o Inca Ataliba, nos campos de Cajamarca.

Esta atrevida excursão, tão singularmente executada por Cesar e os seus quatro companheiros, deu por muito tempo ao territorio por elles reconhecido, desde as aguas do Prata até a Grande CordiTheira, o pomposo nome, já hoje olvidado, de Conquista dos Cesares.

II.

O outro facto a que a cima alludi, posto que seja inteiramente analogo ao precedente, tendo elle a seu favor a prioridade chronologica, eu o considero por isso de particular importancia, para a historia da conquista das regiões adjacentes ás aguas do Prata.

Martim Affonso de Souza, ao tempo que governava a capitania de S. Vicente no Brazil (hoje a provincia de S. Paulo), induzido provavelmente pela noticia que tivera das importantes descobertas feitas pelos conquistadores hespanhóes nas regiões occidentaes da America Meridional, deliberou-se a mandar explorar, si era praticavel a communicação directa entre esses paizes de fabulosas riquezas e o territorio do Brazil.

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N'este intuito expedíra Martim Affonso, no anno de 1526, o Portuguez Aleixo Garcia, com tres companheiros, e alguns Indios Guaranis; prescrevendo nas instrucções que dera a Garcia, que dirigisse este as suas marchas de modo a demandar as terras, que ficavam para o poente.

Posto a caminho Aleixo Garcia com o seu sequito, chegou depois

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de algum tempo, e sem novidade à margem esquerda do Paraná : passando-se logo para o lado opposto d'este rio, encaminhou-se na direcção que lhe fôra ordenada por Martim Affonso, indo ter a uma povoação de Guaranis, situada na margem esquerda do Paraguay, onde descansára por alguns dias, sendo elle, com todos os seus, bem recebidos e agasalhados por aquelles Indios.

Garcia aproveitando-se das favoraveis disposições que encontrára n'esses Guaranis, induziu a alguns dos seus chefes a acompanha-lo na sua exploração, levando comsigo gente de guerra, com a qual augmentou a força, que já tinha, elevando-a a cerca de dous mil combatentes. Assim proseguiu na sua marcha, transpondo primeiramente as aguas do Paraguay, em um ponto pouco ácima d'aquelle, em que depois se erigira a cidade dà Assumpção, que fôra tambem a primeira povoação importante da conquista hespanhola n'essas paragens.

Depois de longas e peniveis marchas, em que não poucas vezes teve de combater com numerosas nações de Indios, que oppuzeram vigorosa resistencia à sua passagem; chegou finalmente Garcia aos dominios do Inca de Cusco, onde se não deteve, provavelmente porque se arreceára das poderosas forças d'esse imperio: e deliberou, de accordo com os chefes Guaranis do seu sequito, regressar para o ponto d'onde partira a expedição, na margem esquerda do Paraguay.

Voltou pois Garcia, dando-se por satisfeito com o feliz resultado da sua expedição, não só pela descoberta que fizera de uma communicação directa entre as importantes conquistas d'aquem e d'além da Grande Cordilheira, como tambem pelos ricos despojos adquiridos nos combates, que tivera com diversas nações de indigenas, áquem da Cordilheira; consistindo principalmente de variados objectos de ouro, prata, e cobre, trabalhados com arte.

Chegado Garcia ao porto do Paraguay, onde havia apparelhado a força da sua expedição, não sem grande perda da gente de guerra que o acompanhára, por effeito dos repetidos combates, das fomes que experimentaram, e de trabalhosas marchas, no seu regresso;

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